A MORTE DA TULIPA!

Em uma área de húmus, a semente de uma tulipa é plantada e não tarda a germinar. Surge um belo exemplar da planta, ereta, lanceolada, matizada em negro. A flor não encontra dificuldades para prosperar em um ambiente límpido, estável, livre de parasitas e altamente nutritivo. A angiosperma floresce cada vez mais bonita, saudável, promissora, encantadora. Poderia algum arroubo do destino desmantelar a pureza do caule verdejante, das folhas viçosas, das pétalas esfuziantes, do pólen expansivo, do perfume entusiasmante? Não! Nada seria capaz de desmistificar o encanto desta tulipa negra! Ainda que o sol arda em magistrais graus Celsius ou a chuva supere seus milímetros previstos mensalmente, a tulipa ali permanecerá, sempre a absorver as deliciosas vitaminas de seu húmus e a encantar seus observadores.

Entretanto...o imponderável, dotado de malícias e motivações que a razão jamais explicará, passa a exercer seu domínio sobre a tulipa. Não, não são ventos escandalosos, nem nevascas petrificantes, tampouco animais herbívoros, nem plantas trepadeiras ou uma repentina seca. A tulipa negra, nossa inexpugnável angiosperma, bravo exemplar de beleza natural, começou a definhar! As pétalas murcham, as folhas secam, as abelhas não localizam mais pólen algum, o perfume cessa. O caule, seu alicerce, enverga. Os observadores da planta, sempre tão atenciosos, voluntariosos e animados, passam a desprezar a pobre flor. O encanto, o brilho, a magia outrora despertadas não passam de distantes lembranças. Nada pode ser feito para reverter o desagradável quadro. As pétalas e folhas enfim se desmancham. O caule tomba. A tulipa está morta.

O distanciamento provoca a seca das folhas. O desdém neutraliza o perfume. A arrogância é fatal para o pólen. Não há caule que suporte tamanha violência. Nenhum solo é fértil o bastante para contornar o trauma. Os admiradores de plantão, que talvez pudessem tomar alguma atitude, estão omissos. Preferem procurar outra flor, quem sabe localizada em um jardim ou um canteiro. Nestes locais poderão encontrar margaridas, girassóis, begônias, azaléias, rosas, camélias, jasmins. Ora, o mundo está repleto de belas espécies de vegetais, não é verdade? Todavia, descobrirão muito tarde que jamais encontrarão outra tulipa negra.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 10/02/2011
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