Invisível
O espelho mostrava uma única coisa; o garoto alto, desajeitado e pálido. Olheiras escuras e nítidas, os lábios arroxeados proporcional com a palidez do rosto, cabelos encaracolados e ralos repreendidos por um boné. A camisa comprida e xadrez, a mochila pendurada em um único ombro, tudo preto e sombrio naquele garoto pálido e sombrio.
O caminho longo e sem sol, era o momento que ele tinha para refletir todos os dias sem nem notar a distância até o colégio. Mas ele notava cada olhar que lhe era lançado; olhar de curiosidade, de pena, de admiração, talvez um olhar que lhe atravessasse e nem o notasse ali, e até mesmo olhares de arrogância. Mas ele só queria não ser visto, ou então aquele olhar que não lhe notava.
No colégio as coisas não mudavam, amenizavam ou pioravam. Nessa instante ele já não sabia se era real ou se era paranóia, se seria um neurótico. Podia ouvir os sussurros maldosos sobre ele. Isso lhe deixava nervoso, e o nervosismo lhe fazia suar. O suor fazia seus cabelos encaracolados se embaraçarem cada vez mais. Sua cara de dor passava ser uma cara de tortura.
Tentava ignorar tudo aquilo com o som alto no fone de ouvido, rock barulhento. Mas a paranóia ou os comentários continuavam, tudo o apontava e o criticava, ria descaradamente. Gostava das poucas vezes que alguém lhe dirigia a palavra, amigos eram poucos ou nenhum, mas uma vez ou outra era abordado por alguém com um assunto interessante. Só isso lhe fazia esquecer os cochichos, a neurose.
Ele só queria poder ser invisível, não ser notado.