Depressão
Não engravide!

Quero usar um exemplo do meu dia-a-dia para falar de algo muito comum que acontece muito numa cidade grande: depressão. Em cidades pequenas acontece da mesma forma, mas leva outros nomes...

No Rio todo mundo tem depressão, sabiam? As mulheres são o alvo para este estigma, mas homens passam pelo mesmo problema. Só que eles tomam cerveja e jogam futebol, driblando, assim, situações em que na verdade gostariam de estar deitadinhos e gemendo que nem gazelas em trabalho de parto. Homem não chora e nem fica de rabo baixo que nem cachorro. Isto ficou reservado à mulher. Portanto, na nossa sociedade, só mulher fica deprimida...

Mulher tem TPM enquanto seus hormônios estão agindo. Depois que os ovários dizem “amém”, na cabeça do povão a menopausa explica seus comportamentos estranhos. Tudo muito pejorativo!

O negócio é o seguinte:

1 - Uma opção é depositarem uma bela grana na conta bancária da maioria das pessoas, que a depressão passa.

2 - Deem paz, segurança e estabilidade ao habitante de uma cidade grande, que ele atura as injustiças que sofre com a violência, preconceito e indiferença social.


Só não passa a depressão de quem já está no ciclo vicioso de tragédias, de safadezas, sofrendo de tudo quanto é mazela. Dessas pessoas a gente tem que ouvir as lamúrias e respeitar seus sintomas. Não é brincadeira, não!


Assim encontrei recentemente uma mocinha bonita que achou que estava curada de sua depressão. Seu caso, como ela justificou, teinha um motivo, mas muitas vezes a depressão vem sem uma causa social. Depressão acontece num momento, num estopim, tal como o amor e o ódio. É coisa de química, coisa do cérebro, talvez até das pessoas mais sensíveis e de personalidade correta...

 
Ela quer engravidar agora. Por isto parou com seus remedinhos, depois de meses de sofrimento. Ela parou com tudo porque se sentiu tão legal que achou não precisar mais das tais “drogas”.
 
 Eu quase tive um treco e disse:
 
"Não faça isto! Estamos no verão. Ninguém deve engravidar no verão e na véspera do Carnaval!".
 
Uma coisa meio ridícula, mas foi a forma doida de eu convencê-la a não engravidar agora.
 
Uma mulher que quer engravidar deve estar com seus exames todos em dia, tudo quanto é exame possível e imaginável. Ela deve começar do zero e zerada para uma nova etapa na vida, que pode ser dura, difícil e cansativa. Por que não pensar no emocional, então? Uma mulher que quer ser mãe pode passar por duras penas - desde a gravidez até a criação de um filho. Ela precisa ter cabeça boa, senão vai refletir suas neuras na sua criança.

 
Ela tem que ter um mínimo de segurança de que seus problemas mentais foram resolvidos ou, pelo menos, amenizados. Não deve achar que filho e gravidez vão salvá-la de outros problemas que acontecem em paralelo. Qualquer grilo à sua volta pode piorar enormemente, se ela não tiver estrutura emocional. Assim, eu acho que mulheres em depressão ou que estão tentando ficar sem medicação, não devem engravidar nos meses seguintes a partir da suspensão da medicação. 

Um filho não serve para teste de nossas cabeças. Se até uma pessoa dita "normal" entra em crise, imaginem alguém sofrendo transtornos comportamentais. Isso pode detonar uma existência inteira!

Eu disse àquela pessoa que eu acabava de conhecer: "Não engravide, por favor! Se acha que esteve fora do prumo nos últimos tempos, não é hora de começar um rumo que pode ser tortinho!".

Quando engravidar? Isto vai de cada um, mas tenho como conceito de que um filho não é remédio salvador pra nada. Filho, um novo ser humano na vida, deve vir cercado de tranquilidade, estrutura familiar, muita boa vontade e força de quem o gera - senão será mais um qualquer na vida, apenas mais um ser sem identidade ou passado que valha a pena.

 
Texto e foto
Leila Marinho Lage

Rio, fevereiro de 2011
http://www.clubedadonameno.com

Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 09/02/2011
Reeditado em 09/02/2011
Código do texto: T2781236
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