A era dos abraços partidos
Assim eram meus abraços: partidos, incompletos. Nunca verdadeiros.
Foram anos e mais anos assim, de incompletude. Como se eu tivesse medo de perder minha alma ao abraçar alguém. Por que? Não me perguntem, não saberia responder. Posso até saber porque as coisas mudaram, mas não saberia dizer quando. Não foi planejado, não conscientemente. Aconteceu. Um dia, que pensei ter sido de repente, eu estava abraçando alguém e me entregando ao abraço. Sem rejeição. Não havia uma tábua de passar roupa entre nós. E eu gostei. A era dos abraços partidos tinha acabado e uma nova era começava: a dos abraços consentidos e retribuídos.
Mas não foi assim, de um dia para o outro. Tudo se deu através de um lento processo que teve início na conscientização, passando pela aceitação e concluindo na decisão. Quanto tempo perdido, vejo agora. Não há nada melhor do que abrir os braços e receber alguém entre eles, de uma forma verdadeira. Sem aprisionamento, apenas um contato entre pessoas que se querem bem e que por um momento conseguem transmitir ao outro toda a energia positiva. A sensação de segurança, de força, de afeto. Um gesto que diz simplesmente – eu lhe quero bem e aceito o seu querer também.É por isto que recebo seu abraço e lhe abraço.