MAIS UM MURO DE BERLIM NO CHÃO
MAIS UM MURO DE BERLIM NO CHÃO
BETO MACHADO Rio, 29/11/2010
Era pra ser uma quinta-feira rotineira, mas não foi. Muito pelo contrário, foi um dia inesquecível. Com certeza as crianças, os jovens, os idosos, os pobres, os ricos, todos os vivos lúcidos, que assistiram a aquele enorme filme-verdade, exibido em tempo real pela TV, por quase vinte horas ininterruptas, vão comentar até o fim de suas vidas, aqueles episódios cinematográficos.
A polícia do estado do Rio de Janeiro quebrava a fortaleza do narcotráfico na favela do Morro do Cruzeiro, na Penha e do Complexo do Alemão, zona norte do Rio. O inacreditável, para muitos, aconteceu.
Os bandidos fugindo, desesperados, morro a cima, alguns feridos, arrastados por comparsas como fardos, outros abandonados como coisas inúteis; uns demonstrando energia e exibindo armas, outros quase definhando, só não largando pra trás o peso das mochilas por obediência à hierarquia truculenta de seus “donos”. Imagens fortes que produziam simultaneamente prazer e pavor.
Milhares de telespectadores torciam ardorosamente para que a polícia matasse os meliantes. Felizmente, os que torceram contra esse desfecho sangrento venceram. Afinal a vitória foi conferida a todos os atores que participaram direta e indiretamente da Grande Operação de Resgate de um território que havia sido subtraído dos domínios do Poder Público.
Mais uma vez a inteligência venceu a força bruta. A soma de alguns princípios como coragem, união, sigilo e determinação, foi primordial para que se chegasse ao sucesso obtido. Deve ser destacada a coragem do Governador Sérgio Cabral de se reunir sigilosamente com o Presidente Lula, numa madrugada, quarenta e oito horas antes da Operação e pedir o apoio das Forças Armadas.
Mas a reunião mais emblemática, a meu ver, foi a da manhã de 28 de novembro, no Palácio Guanabara entre o Governador, o Ministro da Defesa, o Secretário de Segurança do Rio de janeiro, o General Comandante do Exército, o Almirante Comandante da Marinha, o Brigadeiro Comandante da Aeronáutica. Ali foi selada a unidade das ações, que seriam regidas sob a batuta do secretário Beltrame.
Os bandidos não contavam com a presença dos blindados da Marinha, nem das aeronaves blindadas da Aeronáutica, muito menos dos soldados pára-quedistas do Exército. A chegada dos blindados da Marinha, se perfilando a partir da entrada principal da Favela do Cruzeiro, na quinta-feira 25 de novembro de 2010 surpreendeu até mesmo a maioria dos policiais.
Com a constatação da união coesa entre as Polícias Civil, Militar, Federal e as Forças Armadas a Comunidade motivou-se a colaborar também. E a sua ajuda foi da mais alta valia.
Só restando aos narcotraficantes a opção covarde da fuga. O que nos propiciou a assistir àquele êxodo vergonhoso e preocupante, rumo ao COMPLEXO DO ALEMÃO, cujo território foi retomado com a mesma ou mais facilidade, no domingo 28 de novembro de 2010. Agora o Poder Público pode fazer uma Ocupação Social nos dois COMPLEXOS LIVRES.