CONSCIÊNCIA INCOLOR

CONSCIÊNCIA INCOLOR

BETO MACHADO RIO, 20/11/2010

A condição de desânimo de Ana Rosa era imposta, segundo ela, pela sua TPM juvenil, hálibi mensal perfeito para justificar sua alienação temporária.

A conclusão do seu trabalho de pesquisa escolar sobre “A importância da raça negra no desenvolvimento da Sociedade Brasileira" somente foi possível devido à pressão de sua mãe. Aproximava-se o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA e os bons professores, obstinados em manter os alunos integrados aos assuntos atuais e aos fatos históricos, cobram deles, através de pesquisas, esses conhecimentos.

Ana Rosa já havia esquecido que a data de entrega do trabalho era o dia seguinte. Mas sua mãe lhe refrescara a memória com alguns gritos, que nasciam na cozinha e percorriam todos os cômodos da casa, inclusive o banheiro, onde o pai de Ana Rosa descarregava seu “stress”, sob uma regenerante ducha morna.

Batia certo arrependimento na jovem, pelo tempo perdido no sofá, à tarde, vendo TV para disfarçar as cólicas e alimentar o ócio. Quão caro fora o preço da preguiça misturada ao “esquecimento”!!! Teve que abrir mão do bate-papo no MSN naquela noite, pois era uma moça responsável.

Três dias após a entrega do trabalho, veio o resultado: selecionado para apresentação no CENTRO ESPORTIVO MIÉCIMO DA SILVA , em uma EXPOSIÇÃO DE ARTE NEGRA em comemoração ao dia 20 de novembro, dia de ZUMBI, dia DA CONSCIÊNCIA NEGRA sob a curadoria do educador e escritor MOACIR BASTOS.

O brilho nos olhos dos pais de Ana Rosa dava a dimensão do orgulho que eles sentiam da filha, sensivelmente agradecida à mãe pela lembrança do término da pesquisa, sem esbarrar nas quinas da extemporaneidade.

A ostentação da medalha de Honra ao Mérito recebido das mãos do reitor das FACULDADES INTEGRADAS MOACIR SREDER BASTOS tanto massageava o ego de Ana Rosa e sua família, quanto incentivava o interesse de seus colegas de escola, que compareceram em massa.

A bela apresentação do trabalho da jovem estudante propiciou também grande recompensa profissional e satisfação pessoal aos professores, que verdadeiramente, participam do desenvolvimento intelectual de seus alunos, motivando e acompanhando sua evolução.

Tomei conhecimento dessas informações quando de uma saída do WEST SHOPPING acabei encontrando um casal de amigos de infância e adolescência, após um jantar com minha família. Mantivemos uma esticadíssima conversa para compensar os muitos anos que não nos víamos. Falamos de nós e dos outros. Discorremos de futebol a religião.

Cedendo a inúmeras cobranças da minha consciência, hoje resolvi tecer considerações a respeito dos assuntos conversados naquele reencontro cuja lembrança ainda me apraz.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 09/02/2011
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