Diários do IBGE - Dia 15/03/10
Há algumas semanas soube que tinha sido aprovado em um concurso público e, em vista da convocação, deixei meu emprego como operador de telemarketing para assumir meu cargo público temporário.
Não esperava, de coração, encontrar alguém conhecido, pois, apesar de saber que os editais foram bem divulgados, é sempre um paradigma se deparar com uma prova, embora fácil, para concorrer a uma vaga temporária. Encontrei Alexandre que, há uns meses concorreu comigo em uma outra empresa de cestas básicas a uma vaguinha de vendedor por telefone. Perdi. O cara era realmente melhor. Reconheço. Mas sempre vem aquele sentimento: eu poderia ter feito melhor.
-" Fala aí, cara, beleza? Como ficou aquilo lá?" - Usando o "aquilo" para subentender menosprezo, já que não consegui ficar. - "Onde mesmo?, digo, de onde que agente se conhece?" - Ele fingiu não lembrar. Depois lembrou e contou uma história louca, porém verdadeira, que deixou a vaga porque havia sido chamado pelas Casas Bahia. Claro que fez a melhor escolha, mesmo sendo para um temporário como vendedor em uma das maiores, quiçá a maior loja de eletroeletrônicos, móveis e utilidades do país.
Pegamos contato com um jovem que tinha acabado de chegar do norte do Brasil. Conseguiu aprovação em um concurso para Manaus na polícia civil. Mas, como era casado, optou por tentar se estabilizar aqui no Rio de Janeiro. Passamos praticamente a manhã toda conversando, rindo e zoando como se fossemos velhos conhecidos. Observando aqueles que seriam nossos futuros colegas de trabalho e tentando desvendar os mistérios daquele tão esperado emprego do IBGE. Mal sabíamos o que nos esperava.
Nessa observação, além de ver muitas musas, bem adornadas e com contornos espetaculares, pude observar alguns problemas. O nosso coordenador, o Loucivol, que como outro não há igual - esse era o seu cliché - parecia pouco se importar se esperaríamos demais ate levarmos o nossos documentos, como o combinado. Marcou às 08:00hs, sendo que começamos a ser chamados depois das nove. Pouca informação do que seria o trabalho e de como seríamos recompensados. A não ser pelo fato de que receberíamos um aumento do benefício da alimentação. Ele se escorou nesses números para evitar um debate arguitivo.
Reparamos também um jovem semidesequilibrado que ficava andando sem rumo olhando para todos, porém sem socializar. Era de dar medo. Esboçava um sorriso que era logo sequestrado pelo seu ar psicótico e, na minha opinião, as vezes, furioso.
Duas jovens de olhos claros, lindas. Uma morena, que era dona de um olhar muito sensual. Uma Fiat Uno nova, branca, com o logotipo do IBGE e outro do Ministério do Planejamento. Além de muitas perguntas sem respostas.
Apenas uma das muitas perguntas que tinha realmente me incomodava: "Será que fiz merda em deixar meu emprego fixo por esse temporário?" Só o tempo me responderia essa questão.