RAZÃO E PENSAMENTO: CAUSAS DA ESCRITA.
Conservar a serenidade em meio a uma causa sombria e injustificável não constitui uma arte que se possa desconsiderar. Que haveria de mais necessário que a serenidade? A ela nada triunfa, mesmo quando a ousadia tem sua participação.
Penso no que considerou Nietzsche: “Não há erro mais perigoso que o de confundir o efeito com a causa. Esta é a verdadeira perversão da razão.”
Agora, com serenidade, penso que a causa que me levou a cadastrar-me no Recanto das Letras não teria efeito sem as habituais e motivadoras leituras que me levam a escrever. E a razão de escrever reside no instante em que a ideia nasce; vive na palavra, pega corpo no texto, que se expõe para o mundo aos olhos de todos. O indomável pensamento também desconstrói ideias ou as deixa escapar pelos furos da razão, sem a segurança da causa. Aí o efeito é trágico, a fuga deixa rastros denunciadores. Quem tiver serenidade e bom senso pára e pensa, mas sem escrever. E aí? Penso naquele poema de Pessoa que diz: “Há metafísica bastante em não pensar em nada”. E continuo a pensar junto com ele (O Alberto Caeiro): “Para mim, pensar nisso é fechar os olhos e não pensar. É correr as cortinas da minha janela. (Mas ela não têm cortinas).” Aí eu me calo e penso: que paradoxal loucura de onde brota a lucidez! E volto ao “torto” pensamento do Caeiro: “pensar é não compreender”. É de pirar, isso aí! E busco na palavra escrita o desafio da ideia, razão que nem sempre justifica a causa, quando se vê pervertida a razão.
Num dos meus poemas tentei elucidar o que nem a poesia explica, pois nem ela própria conhece:
Por que escrevo?
Não sei.
Se soubesse
talvez não escrevesse
sabendo que, por certo, escreveria
o indizível que pensei.
Escrevo o que a alma respira
e o coração dilata
vertendo sangue, suor
e lágrima destilada
no estanque momento da palavra exata.
E o vocábulo em conta-gotas
vem,
ata,
desata,
se queda no papel, como em cascata,
bóia e borbulha em profusão silábica.
Se tudo que escrevi
foi uma pensante errata,
escrevo o que o momento inspira
e a minha alma retrata.
Direi que os meus despretensiosos versos de alguma forma agradam a mim e a alguns. A outros, certamente aborrecem, como tudo que vem ao diversificado público de variado gosto. E tudo isso é efeito das razões que lhe deram causa. Todos nós sabemos disso, mas nem todos isto aceitam. Um exemplo: os comentários. Eles vêm em dosagem excessiva de elogio ou numa disfarçada agressão. Quase nunca coerentes com o texto lido. Creio haver pecado em algum aspecto. Menos com a agressão. Talvez uma palavra mal interpretada. E, por ela, incompreendido. E mais que incompreendido provocado pelos contagiados de “vaidade das vaidades”, esta lepra que infecta o ser humano na espécie de uma arte qualquer.
Penso na perversão da razão de que falou Nietzsche. Penso nos amigos poetas que tanto me incentivam. E penso, principalmente, em quem lê o que escrevo exposto às considerações de todos. E lhes agradeço. Mesmo se consagrado eu fosse não lhes dispensaria opiniões e conselhos. Ainda mais na condição de aprendiz. E nesta condição jamais penso ensinar, advertir, corrigir alguém. Quem assim pensa, perverte a razão. E ao ver o leitor pelo brilho da sua arranhada vaidade arrota soberba, “linguisticando”. O termo não deve parecer esdrúxulo para quem desfaz o laço da “última flor do Lácio”.
E eu findo com serenidade, para não incorrer no perigoso erro de confundir o efeito com a causa, quando esta me diz que só há uma razão convincente para aqui estar e escrever: a Literatura.
Conservar a serenidade em meio a uma causa sombria e injustificável não constitui uma arte que se possa desconsiderar. Que haveria de mais necessário que a serenidade? A ela nada triunfa, mesmo quando a ousadia tem sua participação.
Penso no que considerou Nietzsche: “Não há erro mais perigoso que o de confundir o efeito com a causa. Esta é a verdadeira perversão da razão.”
Agora, com serenidade, penso que a causa que me levou a cadastrar-me no Recanto das Letras não teria efeito sem as habituais e motivadoras leituras que me levam a escrever. E a razão de escrever reside no instante em que a ideia nasce; vive na palavra, pega corpo no texto, que se expõe para o mundo aos olhos de todos. O indomável pensamento também desconstrói ideias ou as deixa escapar pelos furos da razão, sem a segurança da causa. Aí o efeito é trágico, a fuga deixa rastros denunciadores. Quem tiver serenidade e bom senso pára e pensa, mas sem escrever. E aí? Penso naquele poema de Pessoa que diz: “Há metafísica bastante em não pensar em nada”. E continuo a pensar junto com ele (O Alberto Caeiro): “Para mim, pensar nisso é fechar os olhos e não pensar. É correr as cortinas da minha janela. (Mas ela não têm cortinas).” Aí eu me calo e penso: que paradoxal loucura de onde brota a lucidez! E volto ao “torto” pensamento do Caeiro: “pensar é não compreender”. É de pirar, isso aí! E busco na palavra escrita o desafio da ideia, razão que nem sempre justifica a causa, quando se vê pervertida a razão.
Num dos meus poemas tentei elucidar o que nem a poesia explica, pois nem ela própria conhece:
Por que escrevo?
Não sei.
Se soubesse
talvez não escrevesse
sabendo que, por certo, escreveria
o indizível que pensei.
Escrevo o que a alma respira
e o coração dilata
vertendo sangue, suor
e lágrima destilada
no estanque momento da palavra exata.
E o vocábulo em conta-gotas
vem,
ata,
desata,
se queda no papel, como em cascata,
bóia e borbulha em profusão silábica.
Se tudo que escrevi
foi uma pensante errata,
escrevo o que o momento inspira
e a minha alma retrata.
Direi que os meus despretensiosos versos de alguma forma agradam a mim e a alguns. A outros, certamente aborrecem, como tudo que vem ao diversificado público de variado gosto. E tudo isso é efeito das razões que lhe deram causa. Todos nós sabemos disso, mas nem todos isto aceitam. Um exemplo: os comentários. Eles vêm em dosagem excessiva de elogio ou numa disfarçada agressão. Quase nunca coerentes com o texto lido. Creio haver pecado em algum aspecto. Menos com a agressão. Talvez uma palavra mal interpretada. E, por ela, incompreendido. E mais que incompreendido provocado pelos contagiados de “vaidade das vaidades”, esta lepra que infecta o ser humano na espécie de uma arte qualquer.
Penso na perversão da razão de que falou Nietzsche. Penso nos amigos poetas que tanto me incentivam. E penso, principalmente, em quem lê o que escrevo exposto às considerações de todos. E lhes agradeço. Mesmo se consagrado eu fosse não lhes dispensaria opiniões e conselhos. Ainda mais na condição de aprendiz. E nesta condição jamais penso ensinar, advertir, corrigir alguém. Quem assim pensa, perverte a razão. E ao ver o leitor pelo brilho da sua arranhada vaidade arrota soberba, “linguisticando”. O termo não deve parecer esdrúxulo para quem desfaz o laço da “última flor do Lácio”.
E eu findo com serenidade, para não incorrer no perigoso erro de confundir o efeito com a causa, quando esta me diz que só há uma razão convincente para aqui estar e escrever: a Literatura.