DEIXO A REALIDADE
           E REFUGIO-ME NOS SONHOS...

 

 

Certeza mesmo, eu só tenho de uma coisa: não tenho certeza de nada! Não raramente, encontro-me divagando por uma rua tranquila desta cidade – coisa rara é encontrar essa rua – caminhando em um dos parques e praças por aí, para refletir sobre tudo e sobre nada. Foi o que eu quis dizer, de fato? Sim, a gente reflete sobre nada!

 

Momentos em que reservo um tempinho extra para meu cantinho reflexivo, aciono o que ainda resta de meus neurônios “pensáveis” e chego à dolorosa conclusão de que eu nada sei e, pior ainda, morrerei sem saber o suficiente. Mas, esse não é o mal de toda a humanidade? Essa mesma humanidade impotente, ignorante e cheia de dúvidas?

 

O agravante de se pensar muito, sem um direcionamento da mente, é que, no final das reflexões a gente percebe que tem perguntas demais para respostas de menos! É aí que a “porca torce o rabo”, a cabeça entra em parafuso (até se perde alguns), o redemoinho de questionamentos faz a revolução interior e não se encontra solução viável para o desconforto da impotência.

 

Gosto de observar a natureza, onde ela é muito pouco (quase nada) visível. A mão do homem é muito mais presente, neste mar de asfalto quente, que chego a imaginar-me entre os coqueiros de uma praia do Nordeste, distante e selvagem, onde o homem ainda não conseguiu contaminar, para chutar a areia e brincar com as ondas. Se não encontro saída para a realidade, melhor refugiar-me nos sonhos.

 

É, vou logo sair deste meu cantinho reflexivo, antes que eu tome ciência de meus devaneios poéticos e note que a realidade é bem mais viva que os meus sonhos! E que estes mesmos sonhos, embora distantes, são o elo mais forte que me prende à vida e que, contraditoriamente, permite-me encarar com mais sabedoria a fria realidade. Surtei!

 

 

(Milla Pereira)