NO SHOPPING

Táxi pra lá, taxi pra cá. Pena o calorão, mas as ruas do Rio estão tão bonitas. E ar condicionado nos carros é um conforto mesmo e, só assim, dá coragem de sair de casa.
Sair pra mim sempre é um espetáculo ver o Rio de novo. As árvores do Aterro, das mãos de Burle Max são uma beleza permanente. Quem anda nas ruas todo dia nem nota mais que está na cidade mais bonita do mundo. Quem, alguém, lá no meio da neve e com o carro atolado e congelado na rua de nevasca quanto adoraria estar passeando nesta cidade tropical e colorida. Possivelmente seria um sonho para este. O olho está atento vendo as belezas como uma tela de arte. Enriquece o humor e a alma.
Entro no shopping, também tem ar condicionado, e gentes, e lojas. Parece uma festa, os semblantes alegres e conversadores. Interessante, gente reunida tem mil coisas para falar ou trocar; é outro estado de ânimo. Vou ao cabeleireiro cortar o meu cabelo, que não agüento mais ele tocar no meu pescoço. Ando de vagar e vou olhando as vitrines, vendo e esquecendo. Tenho um objetivo, o cabelo.
Mas uma loja lingerie me chama atenção o nome, HOPE. Uma memória distante associa alguma coisa deste nome. Será que este ”hope” é aquela marca das minhas antigas calcinhas, de malha macia de algodão e sem costuras? E que sumiram do mercado? Aproximo-me e entro. Indago e é sim, mas agora são outros modelos. Tudo para moças jovens, coisas que não uso de jeito nenhum, que acima de moda está o meu conforto. Mas papo vai e vem fico informada de muitas coisas femininas. A vendedora é bonita e simpática e conversamos como se nos conhecêssemos toda a vida. Uma alegria interior me desperta por entender que eu passo para o outro alguma coisa boa que ele aprecia e se sente à vontade, e me alerta que eu olho a pessoa como um ser humano, lá no fundo do olho e vejo a alma e as suas belezas. Acho que é coisa de escritor. É um olhar bom, e o outro se sente bem e se abre. E a face bonita vai se enriquecendo de belezas, os lábios, o sorriso, o gesto, a atenção com certo prazer em mostrar o melhor. A vendedora é Liz e me vende um soutien de meia taça sem arames e macio. O que me alegra, pois nunca usei um; então é uma novidade que me encanta. Ela anima e me oferece uma calcinha moderna que estica e sem costuras, numa cor linda de vinho tinto forte e, diz ela que tem nome de “nadja”. Rimos encantadas as duas. Interessante, importa mais as idéias e conceitos, e imediatamente passamos as duas a “filosofar” sobre aquela cor e sobre a mulher agradar a si mesma com estas pequenas alegrias ou cuidados consigo mesma, quer dizer tratar-se bem, com carinho por si própria. Algo muito feminino e que é bom, faz a vida mais leve.
Ela embrulha as peças com mãos delicadas em papel de seda e gentil diz que posso trocar se quiser. Despeço-me já como amiga. E alegre. Parece que deixei algo bom ali. E sinto que também levo um bem.
No salão do cabeleireiro, a mesma coisa. Entro e procuro a ‘moça alta e muito bonita’ que me atendeu outra vez. As companheiras procuram pelo salão “a cabeleireira mais bonita e mais alta”. Vem Nilda e falo “é esta mesmo”, ao que todas as outras não tinham percebido que Nilda era a mais bonita, nem que tinha alguma beleza. Comento com ela que todas as outras vão se sentir menos bonitas hoje. Ela sorri e entende. Capricha. Saio satisfeita, com lindo cabelo curtinho e mais bonito. Mesma coisa: deixei algo de bom com ela e elas me deram seu bom.