I NO!!

Nas décadas de 70, 80 e 90, muitos brasileiros escolheram morar e trabalhar no exterior, porque as coisas por aqui estavam muito “russas”. Os destinos prediletos eram os Estados Unidos da América ou alguns países da Europa. Neles, nossos irmãos trabalhavam (e muitos ainda o fazem) desenvolvendo tarefas diversas em trocas de dólares, escudos, pesetas, liras, francos, marcos, libras e, posteriormente, euros. Essas moedas permitiram sensível ascensão sócio-econômica pessoal e de suas famílias.

O fenômeno se prolongou até o início dos anos 2000, mas foi decrescendo quando nossa economia se estabilizou, permitindo que a gente saldasse nossas dívidas com o FMI. Além isso, novas riquezas foram descobertas em nosso solo e em nosso mar, melhorando, consideravelmente, as perspectivas de emprego e, consequentemente, a vida da maioria dos brasileiros.

Toda essa lenga-lenga acima é para contar a história de meu amigo Pedro Silva, que em 2005 recebeu proposta para trabalhar em Londres, em troca de mil e seiscentas libras por semana. “Durinho da Silva”, ele não pensou duas vezes: foi a Banco do Brasil, pegou um empréstimo de R$10.000,00, comprou uma passagem para a terra da rainha Elizabeth, um pacote barato de turismo e um bilhete de volta ao Brasil, esses dois últimos para “enganar” os agentes da imigração britânica.

Como alguém que nunca saíra do Brasil, ao pousar no aeroporto Heathrow correu as mãos pelos bolsos em busca dos tickets de bagagens, acreditando que não poderia retirá-las se não os tivesse. Afligiu-se mais ainda, quando, num lampejo, ele se lembrou de que os vira pela última vez sobre a mesinha em que lanchara no aeroporto de Guarulhos, SP. Sua fisionomia deve ter mostrado um transtorno inusitado, pois um policial o abordou e lhe disse: “Follow me!” (Siga-me!).

Meu amigo que mal aprendera o verbo To Be no Brasil, pouco entendera do que o moço falara, mas entendeu o gesto e resolveu segui-lo. Levado a uma sala, o agente lhe perguntou: ‘”Do you have toxics in your pockets?” (Você tem drogas nos seus bolsos?). Dessas palavras todas, ele só entendeu uma: TOXICS. O semblante do policial devia estar muito sério, pois meu amigo, em desespero tentou responder: EU NÃO!, mas traduzindo ao pé da letra, em vez dizer I DON’T, ele gritou: I NO!

Ocorre que o som de I NO (ai nou) é o mesmo de I KNOW (ai nou), que significa: EU SEI. Isso significa que sua resposta deve ter soado como um deboche ao policial. Tentarei explicar melhor: imagine que um investigador lhe pergunte: “Você está com drogas?” E você queira responder “Eu não!”, mas se enrole na resposta e diga: “Eu sei!”

Irritado, o policial determinou que vasculhassem centímetro por centímetro de sua mala, de suas roupas... em busca de cocaína, talvez. Como nada encontraram, o agente perguntou: “Do you have toxics in your stomach?” (Você tem drogas no estômago). Pedro entendeu a pergunta e adivinha o que ele gritou desesperado: I NO! (Eu não!). O que o guarda entendeu? I KNOW! ( Eu sei!)

Creio que se o caso tivesse ocorrido aqui no Brasil, o Pedro teria tomado uns petelecos, uns “pedalas Robinhos”, umas porradas... iria parar no pau de arara, mas na terra de Shakespeare, o tratamento é diferente. Por meio de mímica ou não, ele foi “convidado” a ficar nu, agachar-se, fazer força, levantar-se, caminhar para o aparelho de raio X, fazer o exame radiológico, beber um laxante poderoso, sentar-se num vaso sanitário e defecar sendo observado pelo policial.

Imagino que deve ter sido bem difícil fazer sair alguma coisa por um orifício que devia estar trancado de medo, mas por sorte o remédio funcionou rapidinho e as substâncias aquosas excretadas foram levadas ao microscópio, creio.

Diante do resultado negativo ele ouviu um desconcertado: “You may go. We’re sorry, sir!” (Você pode ir. Desculpe-nos, senhor!”), o Pedro queria dizer umas coisinhas assim: “Sorry uma p_rra, seu viado! Inferno! Cacete! Enfia essa bosta desse país no seu rabo!...”. Na impossibilidade de falar tudo isso em inglês, e depreendendo que o cara estava pedindo desculpas, sabe o que o meu amigo conseguiu dizer ofendidíssimo? I No!

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 07/02/2011
Reeditado em 22/05/2015
Código do texto: T2777739
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