“Que ilumina a mina escura e funda”

Nas manhãs de domingo, assistir ao Globo Rural é sagrado. A ocasião lembra-me sempre um professor que em uma de suas falas contou o mesmo costume. Professor com nome de imperadores, cabelos e sobrancelhas de ouro, pele alva, cheio de graça! Recordando o boi “Caprichoso”, o denominaria por que não – o Gracioso. Gracioso na espontaneidade do bem servir a matéria, com requintes de um gentleman e a marotice de um bom moleque. Gracioso por driblar o cansaço por vezes visível e do nada, chapiscar os olhinhos com alguma cena que o fará divertir-se e por conseguinte, a sala. Muito gracioso ainda, pela bondade de contar suas peregrinações, os ocasos que não possuíam nada de acasos, algumas subidas e descidas – coisas de um bom homem de direito.

Mas voltando ao costume domingueiro, pergunto-me: por que nós, co-habitantes da polis gostamos tanto do rural? E pra mode não apelidá as coisa, dizê mesmo – da roça. Abobrense do pé-rachado, não vejo senão esta minha origem e o que há de melhor em mim – ser da roça. Gostar do cheiro dos currais, acordar com o canto da seriema, admirá os ipê floridim, banhá nos corgo, se aventurá pelos grotões da serra. Eta vida boa!

Dona Rosa Domingas – que não gosta do Rosa, que lástima! – começou a pintar telas já em idade avançada – era o sonho. Costuma pintar através de fotos e fui presenteada pela oportunidade de comprar uma tela que representa parte do quintal dela: um casal de seriemas caminhando rumo a um ipê amarelo, num pasto castigado pela sequidão. Ao lado, uma estreita estradinha, uma cerca, um cerradinho lá pelos meios da pastagem, uma serra ao fundo, uns eucaliptos talvez ou pinheiros no final da estrada, o sombreado das árvores e das aves. Belíssimo! Uma das primeiras imagens que banham minhas retinas ao despertar – e então já me reconheço senhora dos meus quintais.

Nada mais apropriado que a palavra SERTÃO.

SER TÃO simplório possuindo a melhor riqueza.

SER TÃO gente na hospitalidade, na serventia da casa, no bem querer.

SER TÃO terra, água, sol, permeado por estações e ciclos.

SER TÃO SER.

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 07/02/2011
Código do texto: T2777385
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