Barack, Mubarack, Arak e Mejadra







                                                   Somente os meus sinceros e poucos amigos sabem que terminei minha última crônica suspirando mais ou menos assim: “ Mundo esquisito esse, não?”
                                                   Lendo os jornais de hoje fiquei sabendo, para mais um espanto meu, são tantos os espantos... que só podemos enxergar a realidade se olharmos de rabo de olho , e, como diria o pessoal da cidade de Campos, de esguelha!
                                                  O leitor, com certeza, já deve ter notado com estranheza o título da crônica, parecendo coisa irreal, mas não é e nem precisa um olhar torto, para ler o título. Vamos então decifrar esses nomes. Não, também não é a zaga do clube de futebol de Istambul, o Kulubu. Presta atenção, presta atenção, cacoete linguístico do Ney Latorraca: Barack, é o Obama, Presidente da América do Norte; Mubarack, é o Hosny, vamos chamá-lo de Presidente do Egito, por enquanto; Arak é uma bebida libanesa muito forte, uma espécie de cachaça deles e Mejadra é o conhecido arroz com lentilha.
                                                 Como esse mundo, além de esquisito, é pequeno! Acabo de saber que o filho do grande pintor Portinari, o João Portinari, aos 18 anos, era figura conhecida na noite carioca.
                                                 Saía do Leme com seus amigos, dirigindo um carraço, um Buick, e iam parando de bar em bar até Ipanema. Na volta, lá pelas 05 da matina, ainda paravam no Balalaika e terminavam numa leiteria da Lapa, para tomar coalhada e ainda “roubavam” garrafas de litro de leite deixadas nas portas das casas.
                                                Bem, por esse detalhe do “roubo” das garrafas de leite, vejo que minhas andanças pela madrugada do Rio devem ter acontecido uma década depois, mais ou menos, pois não havia mais o costume dos litros de leite nas portas das casas. Eu e meus três fiéis amigos éramos mais modestos: começávamos em Botafogo, ali no Mourisco, tomando uns bons chopes no Bar Santarém. No começo da madrugada rumávamos para Copacabana, parando no Bar Sereia, próximo ao Balalaika e encerrando os trabalhos no Bar Seleto, por volta das 04 da manhã. A andança era de ônibus ou a pé! Pequena diferença.
                                             Não roubávamos garrafas de leite, mas em compensação urinávamos nas ruas desertas de Copacabana, depois de tanto chope, o que motivou a criação do nosso clube de boêmios – O Clube da Mijada Universal -
                                            Mas retornemos ao presente, com o mundo todo de olho no Egito, resolvo fazer um pequeno lanche no aconchegante restaurante do Assad, nascido no Líbano, mas criado desde jovem no Rio e em Niterói, integrado na vidinha brasileira, casado com brasileira, com um casal de filhos.
                                         Tomo conhecimento pelo amigo que o povo egípcio é muito parecido com o brasileiro, muito alegre, amante da vida, mas que está sofrendo muito com a desigualdade social, com 90% de sua população na pobreza e desemprego alarmante.
                                         Esse o motivo da insatisfação deles, apenas isso, o que já é muito desolador. E vejam só: o povo não quer retaliação, só quer que o Ditador deixe o país e vá morar em Londres, onde ele tem uma casa suntuosa.
                                        O Assad formou-se em engenharia na Tchecoslováquia e fala umas oito ou nove línguas. Conhece o mundo todo e me coloca a par dos costumes dos povos. Lamenta muito que a ética seja pouco exercitada e que ainda vivemos muito na base da mentira.
                                        Brinco com ele e lhe digo: “Então, ainda vivemos num mundo de araque? – Sem dúvida, Brimo! E aprenda mais essa, o de araque de vocês vem da nossa bebida Arak , o cara enche a cara e começa a mentir – responde ele. – Vai querer a mejadra de sempre?
                                      - Claro, Assad, você não faz idéia como essa mejadra evoca o meu passado, mas dessa vez me dá também um cálice de Arak. Estou nostálgico hoje, vinha pensando nos meus tempos de jovem no Rio.
                                       Quem sabe esse Arak me “entorta” um pouco e passo a ver este mundo menos desempenado, nem que seja de araque!