O Lado de Trás do Cartão Postal
Visto do alto e de longe qualquer lugar torna-se lindo. Arquiteturas monumentais na área burguesa, arranhando a atmosfera. As Praças são bem cuidadas e perfumam a visão do rico. O turismo vende ou aluga belos lugares. Nativos ou estrangeiros gastam boas cédulas e deslocam-se em ótimos automóveis. Hotéis de, e com algumas “estrelas”. Litoral em harmonia com o azul do céu. Maravilhosas montanhas, rios e florestas, invadidas e exploradas. Clubes estruturados recebem os seus associados.
Caixas de hiper bons preços registram o fino do bom gosto. Porém, na pobre e esquecida periferia, o que se ver são barracos feitos de zinco e de papelão, gente simples e de barriga vazia, reciclando material lixo para comer pão. Os diretores de comunicações sociais, principalmente televisão e jornal, não desejam tanto mostrar o lado feio e humilde da população, a não ser que seja uma desventura gerada no convívio dos mais necessitados para o preenchimento de colunas vendáveis de matérias coletadas gratuitamente. O fim é o interesse contagiado pela obsessão das vontades capitalistas e egocentradas, e pela estética replena de infecção na cabeça merda do ser imbecil ou do humano rico. Passa longe a igualdade social.
No bairro de requinte, o chão contém excelente asfalto. Iluminação elétrica em perfeitas condições. Não há lixo ou entulho nas ruas e nem há buracos, pois lá, residem empresários, madames, doutores... Entretanto, nos bairros afastados nem parece que mora gente, pois os logradouros são esquecidos da memória dos administradores governistas, a não ser em período de eleição. E pra piorar, o serviço público só não é ruim porque já é péssimo.
Mazelas, aborrecimentos, desgostos e delitos acontecem, e as viaturas chegam bem mais tarde, apenas para tomada de anotações circunstanciais. O posto que deveria ser de saúde, vive doente, sem a presença efetiva do profissional que estudou ciências médicas, que inclusive foi formado com impostos pagos pelos contribuintes.
As promessas de candidatos transformam-se em ilusões que perturbam os anseios da população humilde. E assim, o sonho de se ter o mínimo do básico: comida, água potável, teto, escolas, emprego, hospitais, segurança pública, entre outras necessidades para a vida, perdura por 4, 8, 12, 16, 20... longos anos. E as vontades por melhorias ficam jogadas aos buracos, lama, descasos, junto com mosquitos e vidas em riscos.
Entre pedras e valas, o mapa municipal afirma existir ruas e avenidas pavimentadas e saneadas. Definitivamente, a sociedade sempre será conjurada politicamente. E o luxo não admite lixo. Num País ainda bastante desigual, a ordem e o progresso parecem ter sentido figurado, que pensado de maneira literária, deveria ser: Desordem e Regresso. Esse é o lado de trás do cartão postal do Brasil.