EXCESSO DE AMOR

Na adolescência tive um amigo cujos pais o cobriam de mimos. Tinha as melhores roupas, bastante dinheiro, estudava no melhor colégio... tudo que ele sonhava, no dia seguinte lhe chegava às mãos. Sempre foi bajulado e cercado pelas garotas. O café da manhã lhe era servido na cama pela própria mãe. Isso causava nos amigos uma tremenda inveja, sem contar o carro de luxo que o pai o deixava dirigir, embora fosse menor de idade - e ai do policial que o interpelasse.

As confusões por ele causadas, muitas vezes envolvendo a polícia, eram rapidamente solucionadas pelo pai. Nunca soube o que era dificuldade. Além disso, a simples menção do nome do seu pai lhe abria todas as portas, e até transferia delegado para outra cidade, se fosse o caso, tal era sua influência.

O tempo passou e os pais do meu amigo morreram - seu genitor até virou nome de rua e recebeu outras homenagens da sociedade, por sinal justíssimas. O menino, no entanto, se tornou um fracassado e alcoólatra.

Hoje é encontrado pelas ruas, malvestido e corroído pelo tempo, pedindo a um e outro que lhe pague uma bebida, e quase sempre é escorraçado. Não se firmou na vida; perdeu toda a fortuna herdada; carrega apenas o sobrenome pomposo, que outrora fora de grande valia, mas que nos dias atuais nada significa.

Filhos que foram amados demais, não raro se tornam adultos carentes. Crescem “debaixo das asas” dos pais e acabam por não saber administrar a própria vida. Vivem esperando a aprovação dos outros e se decepcionam quando veem que as atenções não estão voltadas para si. São eternos insatisfeitos, pois aprenderam em casa a equivocada lição de que o mundo existe para lhes servir. A carência que o excesso de amor traz torna o homem pequeno e incapaz de ser quem ele é.

Um dos grandes perigos, em se tratando de receber amor, é o mal que o excesso dele causa à nossa vida. Amor em excesso nos paralisa, faz-nos enxergar a vida com um olhar pequeno, como se nossas vontades tivessem que estar sempre em primeiro lugar. Amar em excesso é semelhante ao ato de aumentar a dose de um remédio para que o doente se cure mais rápido. Muitas vezes o resultado é desastroso.

A disciplina é essencial para a formação do caráter do indivíduo. Quando o filho encontra liberdade para fazer em casa o que bem quer e pode, sairá dela sem o mínimo de direção para a própria vida.

Disciplina é saber dizer não na hora certa. Às vezes é aconselhável negar-se a concordar com tudo o que o filho faz, como forma de lhe ensinar que neste mundo dependemos uns dos outros.

A melhor medida de amor a ser aplicada é aquela que permite que o outro seja ele mesmo. Pais devem permitir que os filhos aprendam errando, e errem para aprender. Só faz bem feito quem aprendeu a fazer por si só.

Sabemos que os filhos precisam de amor, todavia temos que ter cuidado para não amá-los em excesso.

Viver é enfrentar desafios, e só quem foi amado na medida certa tem força suficiente para compreender esta verdade.