FILHA ADOTIVA
FILHA ADOTIVA
Crônica de Carlos Freitas
O anseio e desejo por uma filha, acabou não se realizando naturalmente. Do casamento, fomos agraciados com a chegada de dois filhos varões, sadios, fortes e exuberantes. No intimo, persistia a vontade de uma filha, uma fêmea, símbolo da prole, meiguice, candura, amiga e companheira. Debruçamos sobre múltiplas possibilidades, e decidimos pela adoção. Com o perfil desejado e imaginado em mente, eu e minha esposa, nos entregamos à árdua procura. Fomos felizes. Não tardou muito para que a encontrássemos. Três meses, essa era a sua idade. Pais desconhecidos. Seu aspecto - saudável. Raça negra. Sensível, olhos quais jabuticabas e esperta. Capelos negros (minha tecla B do computador insiste em ser P nessa palavra. Pode?). Começamos então, a reviver dias quase esquecidos. Voltamos aos tempos das mamadeiras e banhinhos. Nossos meninos viviam agora o estágio da adolescência, mas, eufóricos, aprovaram nossa decisão. Para nossa menina, daríamos o que existisse de melhor, inclusive, um nome forte, diferente. Após uma votação familiar, venceu o nome Sasha (origem russa), que significa ousada, guerreira. Os anos se passaram, e Sasha crescia cheia de vida e saúde. Era a alegria da família. Sociável, afetuosa, responsável, brincalhona e espirituosa. Deixava-nos felizes e realizados.
Sasha adulta. Preocupava-nos. Chegava o tempo dos flertes, dos namoros, da descoberta do corpo, das fogosas paixões!
Precisávamos nos preparar, com muito tato, esmero e sensibilidade, para essa complexa transição.
Tivemos a oportunidade de lhe apresentar um pretendente. Á princípio, o refutou, mas, num relacionamento mais intenso, sem que interferíssemos, cedeu aos cortejos do cupido. Tínhamos certeza que com ele, Sasha encontraria os caminhos do amor, e os rumos do seu destino. Algum tempo depois, fomos surpreendidos: – Sasha estava grávida! Nenhum motivo para decepção, frustração ou pânico.
Sasha, nossa dócil, e inesquecível pastora alemã, engravidara da sua primeira e única paixão - um afro, belo e másculo pastor belga, presenteando-nos com uma ninhada de nove maravilhosos filhotes. Infelizmente, e pela natureza do seu espécime, Sasha já se foi, deixando uma filha, Jade, hoje com 13 anos, a neta Safira, e muitas saudades.
Como também não somos egoístas, acabamos doando oito dos seus filhotes!