Sou louco?



Sou Louco?

Talvez seja. Talvez todos “sejamos”. Talvez ninguém seja.

Pode ser que a loucura seja o normal, e a normalidade seja simplesmente a louca representação mental de nossa experiência.

A realidade tem várias facetas. Uma delas, a real que nem sempre é a percebida, envolve a pura realidade bruta de todos os fatos e estados físicos ocorridos naquele espaço-tempo determinado. Outra faceta da realidade envolve, com certeza, observadores. Ela depende do estado mental de cada observador, podendo assim cada um perceber o mesmo fato real como realidades diferentes. Observadores externos ou internos ao evento podem discordar, e muitas vezes discordam, acerca da mesma realidade. Nossa realidade mental/cognitiva é afetada por nossos estados mentais momentâneos, preconceitos, valorizações a determinadas nuanças desta realidade, ou mesmo nossa atenção e interesses.

Por isto, como integro esta sociedade mental, acabo tendo também a minha própria percepção da realidade.

Se busco ser crítico e racional na análise desta realidade, isto é um fato que não altera a origem da minha própria percepção, que pode ser incompleta, ou mesmo inverídica frente ao verdadeiramente real.

Devo ser louco, pois somente loucos podem discutir realidades diferentes frente a um mesmo real.

Sou, creio ser, ou gostaria de ser, entre outros, humanista, materialista, naturalista, socialista, ateu, racionalista crítico, fisicista, com bons toques de ceticismo e amante da vida em todas as suas variedades. Desta forma, minha leitura do mundo deve ser focada, ou desfocada, mesmo que parcialmente, por estes princípios, e assim minha realidade percebida é com certeza diferente do que a percebida pela maioria.

Esta racionalização me é importante porque me faz perceber que jamais posso ser o dono da verdade, e minha realidade pode estar tão desfocada ou irreal quanto meus eus a distorçam, sem que tenha a menor ciência de que isto esteja fazendo.

Sou um louco? Talvez sim, mas busco sempre nas evidências, quando possível, lastro para minha realidade.  


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 04/02/2011
Reeditado em 04/02/2011
Código do texto: T2772298
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