“TUITO, LOGO EXISTO.”
REPENSANDO A FILOSOFIA
Descartes,
hoje, diria:
“Tuito, logo existo.”
(José de Castro)
Essa poderia ter sido a frase do grande pensador francês. E também ficar na história. Assim, com o foco nessa releitura filosófica, podemos dizer: quem tuita existe. Faz parte dos mortais. Por isso, aderi. Se não eu poderia ficar parecendo um zumbi, um morto-vivo. Pense no desprestígio: você numa roda de amigos confessar que não tem twitter... Como não tem twitter, homem? Como se atreve? Seria o maior vexame. É melhor estar no twitter, mesmo que não saiba usá-lo muito bem, do que ficar por fora dessa onda... Devagar se pega a manha. E se chega lá: um virtuoso no negócio.
Penso que o twitter, como o cigarro, como uma bebiba, também pode se tornar um vício. Tem gente que se não estiver no twitter se sente como se não estivesse vivendo. Fica como um peixe fora d’água. Pois quem é compulsivo tuita em qualquer lugar, sobre todos os assuntos, a todo o tempo. Dicas, sugestões, microcontos, minipoemas, pedidos de ajuda (talvez até de casamento), pechinchas, fofocas, mentiras, balões de ensaio, brindes, estados de humor, vender idéias (e roubá-las também...) o que está comendo (quem, seria muita indiscrição...), se está com dor de barriga, se brigou com a namorada, se vai sair, aonde vai, com quem, falar de novela e até narrar futebol!!!! Os políticos descobriram o twitter para serem sempre lembrados pelos seus eleitores. No twitter, vivem em eterna campanha política. Os famosos tuitam pra satisfazer seus fãs... E seu ego também. Enfim, cada pessoa tem uma razão para tuitar.
E os seguidores? O que leva alguém a seguir uma pessoa no twitter? Afinidade? Admiração? Ou seria apenas curiosidade? Ah... esse é um outro departamento. Têm os milionários e têm os paupérrimos em seguidores. Eu conheci uma pessoa que tinha apenas 1 seguidor (e nem mesmo sei se era a namorada ou a esposa...) Desconfio até que era ele mesmo, com outro nome. Mas, falemos de quem tem muitos seguidores... Digamos assim, mais de um milhão. No Planeta tem alguns desses ícones. E sabe por que eles têm tantos seguidores? Porque já eram famosos bem antes do twitter. E ninguém quer ficar por baixo, muitos querem ter o orgulho de encher o peito e dizer: eu tô seguindo o Obama. Ou: tô seguindo o Paulo Coelho (nem vou falar de Ashton Kutcher - Aplusk, pois aí já é convardia!). Então, seguir ícones assim é como surfar um pouco na fama, é tentar um pouquinho de prestígio por osmose. Outro dia, uma amiga me confessou que estava seguindo o Hugo Chávez (mas me pediu encarecidamente que não dissesse isso pra ninguém...). Então: têm os seguidores confessos, têm os seguidores dissimulados, têm os seguidores que se orgulham dos seus ícones e têm os que se envergonham, mas persistem. “Seguir ou não seguir, eis a questão...”, diria hoje Shakespeare. Falar nisso, quantos seguidores teria Shakespeare no twitter? Quantos seguidores teria Cleópatra? E Judas? Talvez esse não tivesse seguidores, mas, sim perseguidores... Branca de Neve teria, pelo menos, 7 seguidores. Ali Babá, 40. Adão teria apenas Eva. E vice-versa. Quantos seguidores teria Hitler? Será que, por questões de vaidade, para ter mais seguidores, teria ele desistido de provocar o holocausto? O twitter poderia ter salvo vidas. E creio mesmo que ele faça isso nos dias de hoje. Muitos se safam da solidão, da depressão e das angústias apenas tuitando. Tuitoterapia.
Ainda falando de seguidores. Vou confessar uma coisa: não sou tão bom marketeiro de mim mesmo. Tenho pouco mais de 60 seguidores. Que não sei se são mesmo fiéis ou se me seguem apenas por compaixão. Não importa. Racionalizando: não importa a quantidade, mas sim a qualidade dos seus seguidores. Só que isso escapa inteiramente ao seu controle, pois você escolhe a quem seguir, mas não decide quem vai ou não te seguir (é claro que você tem o recurso de bloquear... mas isso dificulta angariar seguidores). Eu conheci uma pessoa que ficou muito chateada ao descobrir que a ex dele o estava seguindo. Ex-esposa e fiel seguidora. São as contradições das redes sociais. Isso nos leva a concluir que no twitter é mais ou menos como na política: o inimigo de hoje poderá ser o aliado de amanhã. E vice-versa.
Ao que tudo indica, o twitter veio para ficar. Apesar disso, existem opiniões controversas a seu respeito. Têm os que acham que o twitter é pura perda de tempo. Mas têm os que o amam. Aqueles que o execram. Têm os que não conseguem viver sem ele. Enfim, existe todo o tipo de posicionamento. E têm aqueles que ficam no meio termo. E os que não pensam nada. Tuitam e pronto. E, como um certo dramaturgo, dizem: não sou um teórico do que faço...
E eu digo a vocês: assim como recordar, tuitar é viver. Viver o próprio tempo. On line. Instantaneamente. Simultaneamente. Globalmente (nada a ver com a Globo). Tuitar é se informar. É partilhar e compartilhar. É se sentir participante dessa grande teia humana que estreita laços, os mais variados. E que faz o mundo ser cada vez mais um só para todos. Contemporaneidade. Informação, das banais às relevantes. O twitter é o yin e o yang, o raso e o profundo. A notícia e a poesia. A razão e a intuição. Como diria um outro filosófo: l’étre e le néant. Ou o tudo e o nada. E muito mais. Fascino-me. Deleito-me. Deito e rolo nos RTs. Teclo FF + jogo da velha para os amigos, on Fryday. Reply. A torto e a direito. Migre-me, emagreça-me para caber nesse espaço tão curto. Ensina-me a ser conciso, preciso. Falar pouco e dizer muito. Tuite-me, follow me.
Então, conjuguemos juntos: eu tuito, tu tuitas, ele tuita, nós tuitamos, vós tuitais, eles tuitam. E sejamos felizes para todo o sempre. Como nos contos de fada, pois no twitter somos reis e rainhas. Príncipes e princesas. Bruxos e bruxas. E fadas também. O twitter pode ser a nossa varinha de condão. A nossa tábua de salvação. Ou a nossa perdição. Rendo-me? Twitter é rendição? Ou seria redenção? Sei não. Sei que me fascino, me encanto, me escravizo. Mas tuito. Insisto. Tuito, logo existo.