Dizem que a observação de um poeta é sempre mais apurada; mais sensibilizada pelas ondas que esbarram à vida, à morte e ao percurso entre um e outro. Não sei dizer se é assim...Talvez a delicadeza do olhar não seja privilégio de poetas, mas de pessoas que passam pelo caminho mediante um olhar atento de sentimentos, dos mais diversos; e generosamente, deixam que eles (os sentimentos), fluam sem penalidades, sem o medo do ridículo; e daquele constrangimento de sentir-se assim, ou de simplesmente assumir-se sê-lo, sem querer enfiar-se por debaixo da primeira mesa disponível.
Não nasci poeta, não cresci poeta e não me intitulo como tal. Poetas sempre têm aquelas respostas bonitas e um silêncio que domina qualquer pergunta seguinte; até mesmo os poetas gagos, loucos e tímidos o são. Preenchem o espaço por onde passam, deixando algo no ar que perdura ou “perfura” qualquer membrana anti-filosófica mais resistente.
Não sou assim, mas escrevo poesias como quem necessita do mergulho para submergir mais viva de qualquer apnéia; escrevo o que me incomoda e acomoda naquele estado “precisante” de expressão. Tão simples, que por assim o ser, chega a ser complexo.
Mas porque falar disso agora? É que me ocorreu da poesia que não é escrita, mas está num olhar poético que não se descreve, e atrever-se esmiuçar qualquer coisa parecida sempre vai parecer pouco demais, pequeno demais, diante da beleza de um poema naturalmente inundado por um momento que eterniza.
Nesses últimos dias estive internada em uma UTI, e quem me levou até lá foi meu coração, órgão atrelado ao sentimento, ao pulso do amor e do vital movimento da vida. Quem já esteve em situação assim, sabe do ambiente triste e depressor que é estar ali.
Sim! Vi poesia ali, das mais tristes e comoventes às mais doces e delicadas; e não, não era a pretensa porção poética em mim que via; não havia canetas, papéis ou computador.
Eram apenas meus olhos pousados sobre aquelas 11 macas e uma necessidade grande de suas histórias misturadas à minha; e algumas realmente entraram por minhas veias como os tais soros cheios de remédios curadores.
O pouso da cabeça do filho recostado no peito de um pai que já não fala, mas que o olha tão amorosamente, é como canto de pássaro triste que perdeu uma das asas e chora por seu último vôo.
O beijo tímido de um casal que provavelmente há muito não se tocava, ficou bonito de ver , quando produziu aquele efeito no rosto envelhecido dela, que por todo dia dizia: "Meu velho é durão, precisa ver! Prá fazer um chamego preciso quase brigar, já faz 40 anos que estamos juntos, mas é meu velho e gosto dele mesmo assim. Rabugento que é! Gosto não se discute, não é mesmo?"
Quando terminou a visita, a primeira coisa que disse foi: "Olhe que posso morrer hoje! E olhe que vou feliz! Viu só o beijo que ganhei do meu velho?"...Disse olhando para mim com aquele brilho do primeiro amor...E devolvi um sorriso, antes de ensopar meu travesseiro num choro emocionado.
A madrugada numa UTI é cheia de poesia...Não aquelas de céus azuis e cheirinho de mato molhado; nem as de estrelas com luas cheias, mas os versos que se vêem são os das mãos do enfermeiro pousadas sobre um rosto que pede sem que lhe precisem palavras...Versos de cuidados e de afetuosa doação, de quem sabe o quão duro é viver as horas de incerteza e da mais completa solidão da dor.
Não há poesia mórbida ali, mas aquela que te faz renascer para a vida, na constatação de que o calor humano sempre foi e será o que qualquer máquina e seus avanços tecnológicos jamais poderão produzir ou substituir.
Na maca de número dezenove, lá estava eu...Meu pai, numa das visitas, entrou com um olhar que só pais sabem ter, e como sempre, nunca houve nele algo de desistência da vida; nem mesmo quando a crueldade e psicopatia dos homens dilaceraram seu corpo e sua alma...Ao contrário, tinha um sorriso e segurou forte meu braço, dizendo: “E aí Tiquinha? Como é que é? Cadê a mulher brava que você é...(jogando um beijo e colando na minha testa).
Meu pai sempre preencheu os espaços por onde passou com o seu natural amor à vida.
Sim! É ele o poeta da família...(Este era nosso segredo)
Sou apenas sua filha brava, que no dia seguinte se levantou e foi embora dali.
Não nasci poeta, não cresci poeta e não me intitulo como tal. Poetas sempre têm aquelas respostas bonitas e um silêncio que domina qualquer pergunta seguinte; até mesmo os poetas gagos, loucos e tímidos o são. Preenchem o espaço por onde passam, deixando algo no ar que perdura ou “perfura” qualquer membrana anti-filosófica mais resistente.
Não sou assim, mas escrevo poesias como quem necessita do mergulho para submergir mais viva de qualquer apnéia; escrevo o que me incomoda e acomoda naquele estado “precisante” de expressão. Tão simples, que por assim o ser, chega a ser complexo.
Mas porque falar disso agora? É que me ocorreu da poesia que não é escrita, mas está num olhar poético que não se descreve, e atrever-se esmiuçar qualquer coisa parecida sempre vai parecer pouco demais, pequeno demais, diante da beleza de um poema naturalmente inundado por um momento que eterniza.
Nesses últimos dias estive internada em uma UTI, e quem me levou até lá foi meu coração, órgão atrelado ao sentimento, ao pulso do amor e do vital movimento da vida. Quem já esteve em situação assim, sabe do ambiente triste e depressor que é estar ali.
Sim! Vi poesia ali, das mais tristes e comoventes às mais doces e delicadas; e não, não era a pretensa porção poética em mim que via; não havia canetas, papéis ou computador.
Eram apenas meus olhos pousados sobre aquelas 11 macas e uma necessidade grande de suas histórias misturadas à minha; e algumas realmente entraram por minhas veias como os tais soros cheios de remédios curadores.
O pouso da cabeça do filho recostado no peito de um pai que já não fala, mas que o olha tão amorosamente, é como canto de pássaro triste que perdeu uma das asas e chora por seu último vôo.
O beijo tímido de um casal que provavelmente há muito não se tocava, ficou bonito de ver , quando produziu aquele efeito no rosto envelhecido dela, que por todo dia dizia: "Meu velho é durão, precisa ver! Prá fazer um chamego preciso quase brigar, já faz 40 anos que estamos juntos, mas é meu velho e gosto dele mesmo assim. Rabugento que é! Gosto não se discute, não é mesmo?"
Quando terminou a visita, a primeira coisa que disse foi: "Olhe que posso morrer hoje! E olhe que vou feliz! Viu só o beijo que ganhei do meu velho?"...Disse olhando para mim com aquele brilho do primeiro amor...E devolvi um sorriso, antes de ensopar meu travesseiro num choro emocionado.
A madrugada numa UTI é cheia de poesia...Não aquelas de céus azuis e cheirinho de mato molhado; nem as de estrelas com luas cheias, mas os versos que se vêem são os das mãos do enfermeiro pousadas sobre um rosto que pede sem que lhe precisem palavras...Versos de cuidados e de afetuosa doação, de quem sabe o quão duro é viver as horas de incerteza e da mais completa solidão da dor.
Não há poesia mórbida ali, mas aquela que te faz renascer para a vida, na constatação de que o calor humano sempre foi e será o que qualquer máquina e seus avanços tecnológicos jamais poderão produzir ou substituir.
Na maca de número dezenove, lá estava eu...Meu pai, numa das visitas, entrou com um olhar que só pais sabem ter, e como sempre, nunca houve nele algo de desistência da vida; nem mesmo quando a crueldade e psicopatia dos homens dilaceraram seu corpo e sua alma...Ao contrário, tinha um sorriso e segurou forte meu braço, dizendo: “E aí Tiquinha? Como é que é? Cadê a mulher brava que você é...(jogando um beijo e colando na minha testa).
Meu pai sempre preencheu os espaços por onde passou com o seu natural amor à vida.
Sim! É ele o poeta da família...(Este era nosso segredo)
Sou apenas sua filha brava, que no dia seguinte se levantou e foi embora dali.