Homenagem para Dona Antonia
Essa história eu ouvi pelos noticiários e achei que deveria recontá-la aqui para homenagear quem num gesto de amor perdeu a própria vida. Tudo aconteceu de repente. Água entrando por dentro de casa numa velocidade assustadora. Vendo-se em aperto, e sem condições de escapar com o esposo e os netos, ela foi colocando os netos o mais longe possível da água. Esperava pelo socorro que não chegou.
Quando se viu com água pelo pescoço, pegou as últimas forças que lhe restavam e pediu para que o outro neto pegasse a irmãzinha pequena. O menino atendeu seu pedido, e ainda tentou segurar a mão de quem tanto carinho tinha lhe dado, tantos doces tinha feito, tantas histórias tinha contado; mão calejada, enrugada, enfraquecida... Mas a força da água era gigantesca, e o neto ainda ouviu seu avô gritar para a esposa: ‘Agüente firme. Mantenha a cabeça para fora d’água!’
Será que sua avó ouvira? O neto viu aquela mão escorregando e dentro de segundos, desapareceu. Grito não resolvia; choro também não. A culpa era sua, fracassara quando sua avó mais precisara! CULPA. Ele se sentia culpado.
Poucos tempo depois, os vizinhos chegam para socorrer aquela família que estava em perigo. E com tristeza puderam constatar que a avó estava morta.
No velório uma multidão prestava as últimas homenagens. Ouvi da boca de uma das filhas: ‘Minha mãe morrera para salvar os meus filhos. Ela sabia que eu não suportaria a dor de perdê-los. E agora como vou conviver com essa dor de que ela guardou os meus filhos até o último momento?’
O viúvo inconsolável chorava sua amada que não mais teria ao seu lado; e mesmo sofrendo reconhecia que precisava num gesto exaltar a generosidade daquela mulher, revelando a todos o quanto ela fora especial. Assim, pediu que todos os presentes a aplaudissem.