Comerciante, banco, porta giratória, aposentado, boleto.

Sabe aquele comerciante, da praça que vende inúmeros produtos, daquela loja que tem tudo? Sim aquele mesmo como tantos que conhecemos bem.

Hoje ele foi ao banco pagar um boleto.

Calmo, tranquilo, de bermuda, camiseta e tênis. Roupa típica de aposentado que se julga ainda jovem, todo faceiro pelas calçadas das ruas, arriscando olhadinhas maliciosas para senhoras que saem arrumadinhas, cheirosas, com o rosto pintado com ruge, batom vermelho, alegres por que vão encontrar as amigas na fila para receber suas aposentadorias, ou pensões de seus falecidos.

Não se irritou com as famosas portas giratórias que brecam os que menos deveriam ser brecados. Experimente ir com bolsas ou mochilas e você será barrado, sem nenhuma sombra de dúvida.

Enfrentou fila, sempre tem uma, duas ou mais, andam bem devagar, levam horas para chegar nossa vez e tem todo tipo de gente, cada um com uma intenção diferente, boas ou, ruins.

Lugar como este as pessoas deveriam conversar menos sem tratar de assuntos que chamem a atenção dos ouvintes, mas você sabe que acontece o contrário. Os idosos contam suas vidas, os valores das aposentadorias, onde moram e com quem moram, se e quanto vão retirar e etc.

Quando chegam ao caixa, passam o cartão, digitam a senha abertamente dando a chance de qualquer um ver e anotar os quatro ou seis números, ou seja, quantos forem.

O caixa confere o valor da retirada, passa para o cliente que o verifica a vista de todos sem nenhuma parcimônia.

Então guarda em um dos bolsos largos e relativamente raso e sai dando oportunidade de sofrer todo tipo de transtorno.

Chegou à vez do comerciante, igualzinho aos outros, já falou alto, contou de sua loja, suas peripécias, dinheiros arrecadados diariamente e até o local secreto onde guarda os valores das vendas do dia. Local seguro onde ninguém conseguiria descobrir. Tirou o maço de dinheiros, deu para o funcionário que contou pacientemente, eram muitas as notas miúdas.

O bancário procedeu ao ritual necessário, devolveu o boleto pago ao comerciante que o beijou e agradeceu por mais este liquidado.

Saiu belo e faceiro.

Antonio Fernando Ribeiro
Enviado por Antonio Fernando Ribeiro em 03/02/2011
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