O Sol na Cabeça!
O Sol vai queimando as costas e a cabeça. Incansável. A cada minuto vai se fazendo mais forte, mais ardente. É como uma vontade que vai impulsionando pra frente, sempre pra frente.
Às vezes quando temos um ponto de chegada, um objetivo bem definido a se alcançar, sabemos onde ir, é mais fácil. Faz-se o necessário para alcançar a meta, procura-se não desperdiçar energia e nos concentramos no papel que devemos desempenhar. Pensar no que se está fazendo, é besteira. Estaria desviando a energia para outro lugar e precisaria de toda a sua energia para a realização daquela tarefa. Correria o risco de não terminar, desistir. É preciso eliminar os elementos que levariam ao devaneio, chegar ao ponto é o fundamental, e o resto torna-se desnecessário. Foda-se o resto.
Isso pode ser mais uma prova então de que nem sempre o mais fácil é melhor. O que é o melhor? Pensar é sempre melhor, seguir em frente é essencial. Ainda mais com esse Sol nas costas.
Agir o tempo todo sem pensar é tornar-se escravo, enjaular-se numa prisão, aprisionar-se, limitar-se, tendo em sua mão a própria chave para a liberdade. Existem outros tipos de prisões, a maioria mascarada num mar de ilusões promissoras. O idealismo pode se tornar uma prisão, a ausência de idealismo também. O que é o melhor?
Já andei o dia inteiro, e até agora não encontrei um lugar onde eu possa descansar, tirar esses sapatos que apertam o pé e matar a sede. Nada. Apenas o Sol, tão distante, pra mim que nunca conheci nada, é praticamente impossível imaginar a real distancia Dele à Terra. Sei apenas que eu poderia andar a vida inteira em sua direção e nunca o encontraria... É engraçado pensar que também pra tantas outras coisas aconteceria o mesmo... Pensar e não agir é assumir o ócio culposo, é tornar-se cúmplice da indiferença, daquele que não reflete.
Às vezes acontecia isso de eu sentir que estava no caminho certo, mesmo que sem direção, sem um ponto de chegada fixo, mas atento ao trajeto, sempre aprendendo a cada passo, ficando mais alerta e menos inocente. Nunca tive mestre ou guia, e então tive a liberdade de pensar o que quisesse e sempre optei por pensar no oposto do que me foi sugerido, até que me provem o contrário.
Mesmo que o Sol por vezes queimasse demais meu corpo todo. Mas a gente vai se acostumando, afinal é de lá que vem toda força e energia pro planeta. Ele que ia crescendo, tornando o calor insuportável, e me fazia jurar que poderia estar a um palmo da minha cabeça, que fosse capaz de queimar a mão caso eu a levantasse, ele a quem eu devia a minha existência.
As montanhas a minha frente formavam desenhos de imensas ondas negras. Alguns pássaros brincando no infinito do céu parecem pequenos pontos de bom humor. O vento traz lembranças distantes e perdidas, acaricia o rosto e alivia o calor fazendo balançar os cabelos. O Sol se encontra entre as montanhas, vermelho como um olho de rubi e gigante como a esperança dos que conseguem dormir.
O caminho não é solitário, mas tem que ser trilhado sozinho.