MARTÍRIO. MORTE. LIBERDADE.

Mohamed Bouazizi, em 17 de dezembro, trabalhava em sua barraquinha de feira vendendo legumes na cidade tunisiana de Sidi Bouzid.

Confiscado em seus pobres pertences ( barraquina e legumes) por ter se negado a dar propina a agentes públicos corruptos, a peçonha que varre o mundo, indignado por se ver ultrajado na sua enorme dignidade representada por seu trabalho humilde, se imolou ateando fogo às suas vestes.

O martírio pela liberdade de exercer sua dignidade, de não ser ultrajado em seu mais profundo código como pessoa, o direito de trabalhar, quase miseravelmente, sem ser importunado pelo Estado que ao invés de protegê-lo, usurpa-o.

Efetivou-se o "MARTÍRIO" gerando exemplo para o mundo árabe sob o açoite das ditaduras.

Zine Bem Ali, o déspota tunisiano foi o primeiro a cair. Como círculos concêntricos espalha-se pelo mundo árabe a força do maior valor humano, a liberdade. O Egito, por seus nacionais, nega-se a ter qualquer consenso com a ditadura que acumulou fortunas no exterior e que continua a empunhar o chicote.

Que caia, esperamos, não com exílío confortável e rico, fugindo covardemente como sempre fazem, que tente cair empunhando o chicote que ultraja.

Ontem no Brasil, instalou-se a Câmara alta, discursos jogados ao léu, falando-se em transparência e dignidade quando muitos procedimentos, como gosta de dizer a mídia e o povo, “foram varridos para baixo do tapete”. E consegue-se, ainda, falar em transparência, ética e consectários.

É o heroísmo sombrio da palavra que devia ser muda, se muito, quieta e gaga, pois soletrar ética e honra não tem sido exemplo em nossas legislaturas.

Há muito de nossas liberdade martirizadas nesses pronunciamentos, pois não somos nós, os conscientes, os representados.

Não há coragem, nem isso se pede a ninguém, para que um de nós, ultrajados que somos, mais pelos discursos do que pelos atos indesejados, que desfilam em procissão ininterrupta, séquito da insensatez, se imole em chamas diante desses arroubos corajosos, dicção política que incomoda nossa audição e espanca nossa inteligência, gerando uma torrente de engulhos.

Nessa intimidação sofrida pela nossa formação e escancarada para nosso conhecimento, a gritar por cessação e pena, sem meios de responder efetivamente, repelindo a injúria dessas proclamações, ingurgitados, nos resta esperar que algum dia não tenhamos mais representantes que se sairem do Brasil serão presos por ordem de outros tribunais do exterior enquanto continuam legislando no país.

A morte de Mohamed Bouazizi, com registro histórico de relevante significação, é mais uma dessas manifestações de liberdade ultrajada, vilipendiada, pode-se dizer, escorraçada da mais mínima cidadania devida a todos, que lembra a lapidar frase de Gandhi, “Eu não tenho mensagem, a minha mensagem é minha vida”.

A morte de Bouazzi será a vida para muitos, sua mensagem, vida com dignidade, com liberdade.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/02/2011
Reeditado em 03/02/2011
Código do texto: T2770364
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