O VIRGEM QUE SE CASOU COM A VIRGEM QUE NUNCA FOI

Sou terapeuta sexual, tenho uma idade considerável e uma mania de anotar tudo que acontece com meus pacientes. Resolvi expor a vida alguns casais que me procuram, com autorização do paciente, é claro. Tem casos que não dá pra esquecer, como esse caso:

Eram 18 horas do dia 23 de dezembro de 2010, eu estava trancando o consultório e ia de encontro a um pequeno recesso quando ele chegou. Entrou chorando com uma arma na cabeça dizendo que ia se matar. Como sou um bom médico disse pra ele agüentar até depois do recesso e voltasse ao meu consultório lá pro dia 5 de janeiro. Ele apontou a arma pra mim e disse que eu teria que atendê-lo eu disse que sim, afinal com um trabuco na minha cara eu resolvi atendê-lo.

O nome dele era Pedro. Pedro tinha um sério problema, era religioso. Pertencia a um grupo onde as mulheres devem se casar virgens. Pois devem se guardar somente para os seus respectivos maridos. Ele conheceu uma mulher bárbara, chamada Bárbara. Começaram a namorar quando ele tinha 15 anos e ela 14, noivaram, se casaram sete anos depois. Ele se abriu pra mim, disse por muitas vezes que resistiu a tentação. Afinal de contas: “Resisti ao diabo e ele fugirá de vós”. Quando o amiguinho de Jorge ficava alegre, ele saía correndo, tomava ducha fria, ducha quente, enfim, fazia qualquer coisa pra acalmar os ânimos.

O casamento foi uma grande festa de arromba, com tudo que ele tinha sonhado. Era Deus no céu e Bárbara na terra. Ele construiu um castelo de sonhos e deu à ela tudo que ela sonhava. Com direito a uma viagem para o Caribe na lua-de-mel.

Na lua-de-mel, eles se amaram intensamente, foram horas e mais horas correndo nus e fazendo amor pelas praias caribenhas. Numa das noites no quarto do hotel, Pedro disse à Bárbara que ela era sua Eva, porque ela era a primeira. No mesmo tom de brincadeira, Bárbara disse que ele era o Peugeot, ele a indagou e ela disse que era porque ele era o 206. Ele quase enfartou ao saber que a mulher que ele pensava que era pura, sagrada e imaculada; estava pior que farofa de churrasco, todo mundo passou a lingüiça.

Eu conversei com ele, disse que isso era normal. Que no mundo em que vivemos, mulher que se casa virgem está ameaçada de extinção. E que o erro foi ela não ter contado nada pra ele. Mas que era preciso que ele a perdoasse e que tentasse ter uma relação sólida com ela. Porque se separar com uma semana de casado é coisa pra artista. Enfim, dois anos depois ele a matou porque descobriu que Bárbara era tão bárbara que não parou de aumentar a fila. Enquanto Pedro estava com Eva, porque era a primeira; o Peugeot de Bárbara já estava no 356. E Pedro está cumprindo a sua pena até hoje, desgraçou a vida por uma mulher que não merecia um pingo de valor.

Faço um alerta para os leitores, se vocês não são mais virgens, falem com seus parceiros. Tudo na vida é uma questão de diálogo. Agora eu pergunto a você, o leitor possui uma Eva ou um Peugeot? E a leitora tem o seu Adão ou o seu Peugeot? Não me respondam.

Brevemente voltarei a escrever mais algumas histórias de alguns pacientes meus.

Victor Terra
Enviado por Victor Terra em 03/02/2011
Reeditado em 06/02/2011
Código do texto: T2769534
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