Sete Baseados
Sete Baseados
Sim, você já fumou um? Ficou doidão? Então imagine fumar sete! Papo de maconheiro, eu? Não amigos, a minha praia é outra... Praia, foi lá que surgiu o apelido, uma senhora gorda com um potente veículo, motor de 2 tempos (o bicho misturava gasolina com óleo), fedia muito aquela fumaça, o barulho era mais para uma motocicleta: DKW, marca alemã de carros, comuns aqui no Brasil na década de 60. Barra da Tijuca, Av. Sernambetiba, pista de barro, praia linda e enorme, só explorada em frente á Olegário Maciel, era o “Point” dos tijucanos, principalmente a turma da Usina e Muda, tendo lá uma juventude da” pesada”, os jovens sabiam nadar e pegar jacaré naquele mar bravio, eu era ainda um menino de 14 anos quando lá ia aos sábados me banhar. A praia tinha poucos freqüentadores, a grande maioria de fortes rapazes que lá exibiam o corpo moreno e seus narizes lotados de pomada minâncora, com a vegetação rasteira avançando pela areia branca e escaldante do verão. Vamos á cena: a senhora gorda do DKW vermelho descia o Alto da Boa vista com um rapazola e duas lindas meninas, uma bem morena (2 pés na cozinha) e outra branquíssima (3 pés na Escócia, um dela e dois do Pai); na mala vinham a barraca de praia e esteiras de palha. O carro era bom e a estrada convidava às curvas mais emocionantes, porém sem platéia que graça tinha? Ela então embalava na Olegário e dobrava prá direita, um pouco distante do posto do salvamar, era mais cheio e avistava-se os rapazes em” panelinha”, sim eles ficavam juntos para contar vantagens e aparecerem mais para as modestas meninas que por ali passavam. Alvo visto ela dava um arrancada em linha reta por cima daquele mato rasteiro, o carro parecia um cabrito, eu me segurava firme, já sabendo do “ grand finale” e ficava rubro de vergonha... As rodas começavam a patinar no encontro com a areia finíssima da praia até o bicho morrer atolado, e ela, toda feliz gritava:” Chegamos meninas, ajeitem os biquines, Roberto vá buscar as tralhas lá na mala, que dia lindo né? “Saía com esforço abrindo uma porta que, do outro lado, tinha a resistência da areia, e ela dava aquela buzinada fina para os rapazes beira mar. Eles avistavam e acenavam, corriam para ajudar as belas garotas na montagem da barraca, quem sabe elas não passariam óleo nas costas? A praia estava posta, mar bom, ondas para me divertir e alguns sorvetes poderiam passar, fugia para o mar: A minha diversão era pegar o famoso” jacaré” de peito mesmo, cheguei a ter um pé de pato dos bons e a encarar, do lado de seu Francisco (um negão que era o responsável pelo salvamar da Barra) uma ressaca.
Bem, o dia passava rápido e a fome vinha à galope, tínhamos que voltar. As meninas já bronzeadas e na sombra, chega à hora da retirada, vem o grito de guerra “Vamos apostar um pega na subida do Alto”? Os rapazes eram bons pilotos e estavam preparados para a empreitada, resposta: “ Vamos !!!”Juntavam uns quatro na frente e a gordinha engatava a marcha ré olhando pelo retrovisor a minha orientação manual, o carro roncava bravo e saía do atoleiro, atolava de novo... Buscávamos tábuas e com um pouco de engenharia o possante estava na pista, os fuscas e opalas viriam a seguir fazer a marcha comportada até o pisca-pisca (início da subida do alto) a regra é clara: Não vale trocar de posição e “ Sete baseados” vai na frente! Não sabia do apelido, mas Paulinho maluco era rapaz de palavra e não iria inventar um nome á toa não! Isso mesmo, SETE BASEADOS, minha Mãe, dona Maria do Carmo Cavalcanti de Novaes, reduzida a um conjunto de cigarros de Cannabis Sativa! Mãe extremosa, bem casada com um engenheiro José Solano e moradora no Alto da Boa Vista, porém a mais jovem e maluca daquele grupo de rapazes paqueradores. Eu ficava indignado e calado... Fazer o que? Era um adolescente tímido, fracote e branquelo, irmão das coxas morenas mais torneadas que andavam na zona norte com aquela branca de neve de olhos azuis da cor do mar, não tinha opção ! Para ir na praia dar meus mergulhos tinha que pagar esse” mico” familiar.
O pior está por vir: A corrida! Eu tinha muito medo, a coisa era séria, não tinha cinto de segurança e nem se sabia o que isso significava. Sete baseados abria o quebra-vento (antigamente os carros tinham uma janelinha perto do retrovisor que direcionava o vento para dentro do carro) regulando o retrovisor com a mão esquerda, verificando os oponentes : um fusca branco rebaixado e tala larga, opala azul com faróis de milha e pneu de corrida e outros curiosos que vinham de testemunha ocular. Maria do Carmo dava o sinal com aquele braço gordinho e a mão balançando no conhecido gesto “venham” e acelerava! O bicho peidava mais que Alemão em oktoberfest, a primeira engatada e o motor zumbia em máxima rotação até a segunda que vinha com um sorriso maroto de mamãe, as meninas debruçadas no banco de trás tentando ver alguma coisa que não fosse a fumaça do DKW, a terceira entrava já na velocidade de cruzeiro, minha mãe era só concentração, vento no rosto e duas mãos no volante, curva prá direita, prá esquerda, não tinha ônibus nem carros descendo o alto, só subindo de volta prá casa e a minha pressão também! Missão estava cumprida, nenhum daqueles rapazes conseguia ultrapassá-la, o carro era muito forte e até uns 80 km/h, em subida, não tinha prá ninguém! Uma paradinha na Cachoeirinha, comunidade que dava acesso a rua que nos levava prá casa ( graças à Deus ! ), para se despedir dos competidores que passavam zunindo, seguiam o pega até a Usina, ela buzinava feliz, as meninas davam adeus e Eu parava de rezar...
Amigos, acho que de infarto nunca vou morrer, se sobrevivi aos pegas de “sete baseados” estou salvo para sempre!
Roberto Solano