SEGUNDA- FEIRA
Segunda-feira é um dia maravilhoso pra mim, é dia de trabalhar, encontrar gente, falar com outras pessoas, ir ao cinema sem passar atestado de solidão.
Adoro sair com amigos, ir a ópera, ao balé, ouvir música erudita, ou sarau...O problema é que os amigos que tem o gosto parecido com o meu, estão distantes, uns casaram e se acomodaram em suas vidinhas, não se animam para esses programas, como fazíamos na adolescência, os outros amigos queridos estão em estados distantes ou em outro país, ai me restam os conhecidos que não gostam de nada disso, eu por minha vez não gosto de nada que eles gostam, então só me resta ir só ou esperar o final de semana passar, é chato sair só, o bom é ter alguém para dividir nossa opinião, entusiasmo, alegria...
Durante muitos anos fiz espetáculos para divertir os outros, isso é muito bom, ver a casa lotada, ouvir o sorriso em coro, de algo que foi ensaiado para oferecer alegria e questionamento, nossa alma de artista fica feliz, mas ao término de tudo aquilo, nos vemos sós, em algum quarto de hotel, muitas vezes chorei; numa dessas vezes meu adorado amigo Ricardo Bandeira, outro solitário como eu, percebeu a minha dor, trouxe-me uma quentinha e almoçamos os dois naquele quarto de hotel, que nem sei o nome, nem em que lugar estavamos, foi um momento que nunca esquecerei, fraterno, e de sensibilidade profunda.
As vezes as pessoas nos pergunta, por que não se junta aos outros? Elas não sabnem que algumas pessoas tem a alma assim, por mais que tentem não conseguem, é da personalidade, é da alma. Aves que voam em voos solitários, elas tem necessidades de exercitar manobras de voo difrentes, como O Fernão Campelo Gaivota, minha alma é assim, as vezes tento voar com o grupo, mas como na história, eles voam só para garantir o peixe do almoço, eu preciso exercitar meu voo... e ai o destino é o mesmo do personagem. É incrível como algumas histórias parecem feitas sob medidas para nós.
Uma música coroa com sabedoria o que vai na minha alma, é BEATRIZ, de Chico, ele parece que viu exatamente o sinto lá dentro.
Mas se alguém quiser trocar comigo, eu certamente não aceitaria, pois apesar de ficar só, as vezes doi, mas tem seus encantos e o prazer da auto descoberta, da observação da alma alheia, nos enriquece tanto...
O melhor de tudo é a alegria dos raros encontros com almas afins, o papo é divino, o dividir uma quentinha é o melhor banquete, ou a caminhada no meio da natureza é encantador!!! Esses momentos preenchem todos os anos de solidão.