UM GATINHO CHAMADO ZÉZINHO
Hoje, logo pela manhã, eu o conheci.
Vinha acompanhado da dona Joana e não arredava o pé de perto dela.
Muito esperto, parecia entender toda a nossa conversa e a cada fala minha arregalava seus olhos negros, pequenos e viçosos como duas jabuticabas recém tiradas do pé.
Ele, de raça negra, parecia ser muito além do seu tempo de vida, fato que me chamou a atenção.
Olhava e analisava todo o entorno com perspicácia quando, de repente, ele pulou no colo da dona Joana e ficou a me fitar com se tivesse dúvida de algo. Não sairía de lá "nem a pulso", foi o que senti, porque de fato parecia cuidar direitinho daquela senhora.
Compenetrado, também parecia falar comigo em silêncio.
Retribuí o olhar àquela pequena criatura e perguntei a dona Joana de quem se tratava aquele ilustre acompanhante.
"É o Zézinho, o meu netinho caçula, desde que nasceu está comigo" me disse ela toda orgulhosa.
Eu, encantada com a beleza marcante do Zézinho fiz um comentário informal, usando aquela conhecida gíria do mundo feminino:"nossa, mas ele é um gatinho..."
De súbito, saltou do colo da avó e me respondeu seriamente:"eu não sou um gatinho, não senhora!
Confesso que me surpreendi, e prontamente retifiquei:"Claro, Zézinho, você é um garotinho, claro que é!"
Então ele fez um gesto de amplificação dos lábios, encheu os pulmões e com ênfase me explicou:"Não sou um gatinho não, eu sou um LEÃOOOO, um leão de três anos!"
Depois dona Joana me poetizou a esperteza daquele seu "leãozinho".
"Tão pequeno e quando eu lhe pergunto cadê a lua, ele aponta para o céu e me responde: "Serve aquela, vovó?"