DATAS CRÔNICAS
Resolvi começar algumas de minhas crônicas temporais com "Um dia" ou "Outro dia". " Era uma vez" fica meio fabuloso. Esse foi o melhor meio termo que encontrei entre transformá-las em uma possível fonte historiográfica sem a menor credibilidade ou em fábulas sem final feliz nem moral da história. Tomei esta decisão depois de constatar que alguns textos bíblicos começam por “Naquele tempo” e isso não prejudicou em nada a notoriedade nem a credibilidade da bíblia. Não que eu esteja querendo estabelecer alguma disputa, longe disso. Mas é que a crônica ficará sempre atualizada. Tática de marketing literário apenas.
E que o meu antigo mestre Vidigal não me leia, pois serei excomungado como herege dos cânones da historiografia. A propedêutica do cônego Vidigal era uma heresia contra a hermenêutica do próprio cônego Vidigal. Afinal ele estava ensinando para futuros historiadores e não para seminaristas, dou esse desconto. Ele foi meu professor da disciplina de Introdução aos Estudos Históricos, a primeira, a matéria-mãe do curso de história de qualquer universidade. A precisão das datas para ele era a mais fidedigna e indiscutível certidão de verdade de um documento. Mesmo sendo um padre que se formou entre a bíblia e outros pergaminhos apócrifos. Então tenho a salvaguarda da teologia. E uma crônica prescinde do rigor de um documento que vai passar para a posteridade a fim de provar algum fato. A maioria, com o tempo acaba se enquadrando na categoria de causos do cotidiano.
Aos teólogos, peço clemência, pois isso aqui é uma crônica sem nenhum fim de blasfêmia. Não há mais fogueiras mas a danação eterna ainda circula no imaginário da religiosidade coletiva. Já, já, começam a dizer que eu estou duvidando de Deus, da bíblia e outras baboseiras radicais.