De tempos em tempos velhos paradigmas são substituídos por “modernas” e atualizadas formas de vida. Substituídos como se estivessem completamente errados. Exilados... Alguns essenciais e, no entanto, esquecidos.
               Pais e mães não deveriam ser vistos como ultrapassados e dispensáveis, Não somos somente amigos de nossos filhos. Podemos e devemos ser amigos, mas, somos pais, responsáveis pela educação e formação de valores dos mesmos.                
               Lembro-me que quando criança, quando passeávamos nas férias, meu pai, como a maioria dos homens de sua época e de sua cultura, tinha o invariável hábito de beber. Como criança, percebia tudo isso com naturalidade, no entanto, também observava minha mãe... Comportamento reservado e sério. Reservada ela sempre fora, educada pela rigidez de uma família tradicional mineira, mas, a seriedade, essa deveria vir da preocupação e a tristeza de ver meu pai bebendo tanto. Ela nunca nos permitiu o desrespeito para com ele e acima de tudo, cuidava de todos nós (somos quatro) com carinho e ponderação. Minha mãe não dirigia e, meu pai, nos conduziria alcoolizados. Na verdade, só me dei conta do quanto ela sofria, depois que passei a observar o mundo de janelas abertas, compreendendo a importância do comportamento dela em nossas vidas.
               Minhas lembranças, não fazem muita diferença, o fato é que sentada em um cadeira de praia e, com o hábito de me perder em observações incomuns, comportamento que adquiri com a maturidade... Adoro essa palavra quando me refiro à vida! Sempre tenho a sensação de devir... De estar vivendo além dos sabores e saberes que a história me ofereceu. Observei pessoas, mulheres, mães como minha mãe, de outra época, outra cultura... Que bebiam enquanto seus filhos brincavam. Não sou sinônimo de virtude, nunca desejei ser, nem sou regida por tabus e regras, mas, não pude deixar de sentir tristeza quando as ausências da conseqüência não as fazem perceber o erro que cometem consigo e com os que foram por elas gerados. Não estou julgando é só um lamento de quem já vivenciou a história por outro prisma.
                Deveríamos ser exemplos e, verdadeiramente somos, mas deveríamos ser exemplos de atitudes que elevam. Oferecendo direções, presença segura. Não permitindo que o vício do álcool ou qualquer outro, tome conta de momentos de vida, de convivência e de amor. Sem qualquer proveito, sem nenhum objetivo a não ser o de me “tornar alegre” por algumas poucas horas. Não é me embriagando que me torno alegre. Ou se vive os possíveis momentos de felicidade sobriamente ou, se acorda com um insuportável mau humor, uma típica dor de cabeça e um desejo ainda maior para a próxima rodada de cerveja. Opinião minha... Tempo perdido! Para outros tantos, forma de aproveitar a vida! Fico me perguntando: E para aquelas crianças? O que elas perdem? Que valores formam?
                Algumas já convivem com a ausência paterna...
                Velhos paradigmas, velhas formas de viver... Tão necessárias, tão em desuso...
                Eu sei o que encontrei quando cresci! O álcool fez-se Senhor do homem que eu mais admirei. Meu pai se deixou vencer por ele! Mas, o comportamento de minha mãe me legou a sabedoria de entendê-lo e de amá-lo.