Problema chifral
Problema chifral
Ricardinho era bom de bola, jogava na ponta esquerda, rápido, drible curto de leveza ímpar na corrida pela lateral, um perigo! Paulão (bujão de gás) um grande beque, daqueles que ficam “filmando” as jogadas e sempre adivinham o lance terminal, chegando antes e destruindo o adversário, fulminante. Tínhamos Patinete, Lambão, Nego Zulu, Disparada, Oião, Folha seca (Didi),Bolão, Traveco e Biu-biu. Turma de peladas memoráveis e que, com raras exceções, derrubavam vários chopps no fim do jogo.Toda quarta-feira, também conhecida como quarta - sem - lei, lá no boteco da dona Fifi, senhora prendada na cozinha, que aos sábados fazia uma rabada de primeira!
Tudo andava normal até um dia Traveco chegar triste, jogou mal, meio perdido no meio do campo, lançamentos errados (coisa rara!) o time afundou-se sem seu cérebro vital. A reclamação foi dura, pegamos pesado no Traveco, Didi se exasperou e chamou a criatura de VIADO! Meus amigos, o tempo fechou! Traveco até admitia ter sido pego, meio bebum, na avenida Atlântica assoviando para uma morena que valia o chamado, boa, carnuda, bunda de judoca (redonda e dura) e de coxas longas que pareciam os lançamentos precisos que ele fazia para Ricardinho receber na linha de fundo, meio gol! Agora viado ele não era mesmo, ao contrário, um galinha, não deixava mulher triste, cabra macho, bom de cama e meio sem gosto: dizem que ele gostava de mulher velha, coisas de menino criado por Vó, sei lá...
Bem, tudo se contornou com um pedido de desculpas e uma explicação: “Estou com um problema chifral” Amigos, esses problemas são terríveis de se viver... Quer se abrir? Não, vou beber e voltar prá casa, Glorinha me espera. Ficamos calados, respeitamos esses dramas: entendemos um corno. Mas fiquei intrigado, ele era bem casado e Glorinha não ia dar prá ninguém, moça bem criada, pacata, fogo baixo e apaixonada por aquele viado ! Perdão, Traveco...
Comemos uma rabada na Fifi, estava quente, Traveco veio e tive a chance de questioná-lo “O que houve amigo? Pode se abrir” Ele pediu uma purinha (prá antes de cair de boca) e dosou a pimenta por cima da polenta, deu uma garfada e um trago, enrubesceu, chorou calado, olhos vermelhos, e disse” O caso é muito complicado, e não sei o que fazer...” Fala homem, bota prá fora amigo! É com o Paulão... Meu Deus, pensei, será que Traveco é viado mesmo? Já estava meio calibrado de cerveja e eliminei o pensamento. Fala homem de Deus! Porra, se abre! O Paulão está sendo chifrado pela Tina! Merda!
Entendi! Eles eram amigos de infância, de bafo-bafo e pião, amigos quase irmãos, mesma rua, mesmos gostos, pela bola inclusive. Saber do chifre alheio dói, embora a Cristina (Tina) não era mulher de se pôr a mão no fogo não. Loira para quinhentos talheres, boa, gostosa, perua toda, peitões duros-melões, bunda empinada, e a mais linda cordilheira dos Andes que já vi ! Quase um caminho de ouro derramado. Explico: a cordilheira do Andes é aquele pelinho que sai do umbigo e termina no Peru, sacou a comparação? Ela tinha a barriga mais linda que já vimos (o time inteiro) com aquele caminho de ouro, loiros, doirados caminhando para a xoxota mais linda que já sonhei (nunca vi...). Voltemos. O tema é delicado, porém previsível: Paulão não podia segurar uma mulher daquela, impossível, ela tinha um fogo que qualquer mortal se queima só em olhar! Cara de puta em corpo de Deusa! Meu Deus, tadinho do Paulão...
Ponderei: Amigo, o Paulão sabia do risco, casou apaixonado, era muita areia pro caminhão dele. Certo, disse Traveco, MAS é pior, muito pior... Caramba, gelei, vi no rosto do amigo que vinha uma onda maior naquele terror amoroso. Fala seu viado-filha da puta! Pronto, mexi com a fera! Ele calmo se abriu: Vi Tininha com o Ricardinho saindo do motel! Deus meu! Que loucura é essa! Tem certeza? Tenho! Estava de moto e segui à distância, até ela saltar na quadra do shopping, com aquele rabo indefectível! O carro era do Paulão, merda, merda grossa, dois chifres amigo! O Ricardinho é um irmão pro Paulão, você sabe, desde sempre, não sei o que fazer, muito menos falar... Desabou em choro não contido, assoando o nariz apimentado no papel vagabundo do guardanapo da Fifi. Que situação...
Fizemos um pacto de silêncio, não falaremos nunca mais nesse assunto! Tina é gostosa e séria! Paulão o melhor amigo-zagueiro do clube, e Ricardinho, um ex-ponta esquerda. Digo"ex" pois, sem razão aparente, num domingo de treino, o Paulão deu uma cipoada no Ricardinho : levantou aquelas pernas finas após uma entrada rumo ao gol, do nosso craque, foi feio, sacanagem ! Covardia ! Todos reclamaram do Paulão ! Pô velho quebrou o craque do time? Precisava disso ! Filho da puta ! Enquanto se empurrava o zagueirão prá fora do campo. Vimos a maca sair com aquele magrelo chorando... Quisera (a turma toda) dar uma surra no Paulão, menos eu e Traveco... A justiça Divina tarda, mas não falha! E dona Fifi ENRABADA é uma beleza! Sobre isso podemos afirmar e confirmar !
Roberto Solano