LENTES DO TEMPO

 

 

A vida é uma loteria. Pode ser um prêmio ou castigo.  Um simples telefonema, no meio da noite, pode mudar o rumo de nossas intenções, de nossos objetivos. Lançar âncora em mar calmo e aportarmos no cais da felicidade, na maioria das vezes, não é uma opção, mas sorte. E o acaso está à espreita para nos surpreender a qualquer momento.

 

Quantas vezes nos deparamos com situações sobre as quais não temos qualquer controle e, impotentes, perdemos o tino. E, quantas mais ainda, conseguimos segurar o leme de nosso barco, à deriva, quando a esperança é tão tênue que quase esmorecemos.

 

É o destino cumprindo sua parte nessa roda viva que é a nossa existência. Os pensamentos nos absorvem de forma tal que, as cenas de um filme tragicômico se desenrolam a nossa frente, como se não fôssemos parte dessa peça de horrores e humor negro. Este filme não é nosso... 

 

E as lentes do tempo se encarregam de captar cada linha de nossa face que se contrai diante do inesperado. Cada rito da tristeza que nos assaltou quando o telefone tocou, no meio da noite. E o fantasma da doença, incurável e avassaladora, abate-se sobre nossas cabeças como marca a ferro quente que jamais se curará. Cicatrizes se formarão sem que possamos fazer nada para mudar a realidade nua e crua.

As lentes inexoráveis do tempo continuarão filmando, até o último momento.

 

(Milla Pereira)