MAS TUDO SE RESUME A SEXO?

Nos conhecemos no metrô, rolou um papo banal, trocamos telefones. Um dia Ligou. Pediu para eu escolher um local de encontro, que teria que ser sábado, qualquer sábado, prá gente bater um papo. Disse que escolheria qual sábado e lhe avisaria, mas que o encontro estaria automaticamente desencontrado caso chovesse. Eu não gosto de sair em dia de chuva, molha a gente. Lá fora ta chovendo mais assim mesmo eu vou correndo só prá ver o meu amor, vô não. Mesmo que fosse meu amor, e não era o caso.

Calendário me deu uma boa idéia. Era fim de mês. Primeiro sábado do mês tem aquela maravilhosa feira de artesanatos e antiguidades na Rua do Lavradio. Beleza pura. Sempre se encontra algo para comprar, seja artesanato ou antiguidades. Boa comida bons restaurantes, boa música. Perfeito, vai ser lá.

Ligo prá ela e digo onde passaríamos à tarde do sábado. Ela não conhece a feira da Lavradio, então descrevo o mais que posso. Ela responde que não gosta de antiguidades, que isso é coisa de museu e velhos, pede para eu arrumar outro lugar. Sinto vontade de dizer umas coisas para ela, mas era fim de mês, eu queria muito terminar o primeiro mês daquele ano sem arrumar mais inimigos, já tinha completado minha cota mensal.

“Antiguidade é coisa de velho e museu”. Fico calado uns segundos, ela falando alou, alou, alou. Respiro fundo, digo que pensarei noutro lugar mais apropriado para ela, desligo o telefone.

Lembrei de um dos muitos ensinamentos do velho Braga, pena eu ser péssimo aluno, quanta coisa teria aprendido com ele. Mas desse eu lembrei.
“ Um gosto não pode ser uma opinião”. Eu gosto de ouvir Elomar tem gente que não gosta, eu gosto de sanduba de pernil de porco tem quem não gosta, eu gosto de fantasiar com a Serpente Angel, dessa todo mundo gosta.

Como é possível não ver beleza de um móvel marchetado? Como não ver beleza numa grande mesa pés de leão? “Antiguidade é coisa de velho e museu”.

Depois de tantos pensares e pensares, eu Liguei para ela e falei não ter nenhuma idéia do lugar ideal para o encontro. Ela respondeu imediatamente:
“Além de burro você é muito burro”. E desligou o telefone. Eu fui pego de surpresa pela reação dela, ao me chamar de muito burro e bater o telefone na minha cara.

Como não nego minha burrice, não foi o que mais me surpreendeu, e sim o porquê dela ter descoberto minha burrice. Pensei muito sobre o caso e nada. Contei o causo para alguns amigos num desses papos de boteco. Todos eles falaram a mesma coisa. Que a ela queria fazer programa sexual, mas não queria ver coisas de museu. Que eu devia levar para teatro ou cinema, comer alguma coisa e depois ser comido por ela.

Falei para eles que não pintou em mim nenhuma vontade de fazer sexo com ela. Quando a conheci no metrô não cantei nem nada, apenas conversamos coisas bobas, e foi dela a idéia de trocar telefones. Os meninos logo perguntaram se ela era tão feia assim. Não, não era nada feia, tinha a idade perfeita para um senhor de minha idade, mas em momento algum eu olhei para ela com olhar pidão. Quando ela me ligou atendi uma nova amiga, apenas isso.

Caraca maluco escutei um monte de besteira. A que mais me irritou, e me fez lembrar de lindos palavrões, e de que não existe amizade entre homem e mulher. Que todo homem quando conhece uma mulher quer levar pra a cama. Que porra é essa camarada? Descobri que não sou amigo das mulheres de meus amigos, quero comer todas.








 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 31/01/2011
Reeditado em 06/10/2011
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