VOU CONTINUAR TENTANDO E ATENTANDO
Suponho que ter marido, noivo ou namorado ciumento deva ser horrível. Digo “suponho”, porque eu nunca tive nada disso. Imagino que minha vida seria um inferno caso eu tivesse, porque eu sou espaçosa, pegajosa, beijoqueira... É só eu encontrar um aluno, ex.aluno, amigo, marido de amiga... que eu tasco um abraço e beijocas nas bochechas.
Como não sei o gosto do ciúme, de vez em quando, eu atento meu esposo (oh, nome feio! Mas tenho de usar porque é isso que manda um dos mecanismos de coesão da língua portuguesa.) para ver se nasce pelo menos um pinguinho.
Recentemente, enquanto eu preparava o almoço de domingo o filho único da minha sogra lia o jornal A Gazeta tranquilamente. Lembrei-me de que há duas semanas, mais ou menos naquele horário, eu estava na Times Square Church, uma igreja evangélica fantástica, localizada na Broadway, e resolvi relatar-lhe algo que ali ocorrera.
Eu já lhe contara que o recinto dessa igreja é nada mais, nada menos, do que um belíssimo e antigo teatro de Nova Iorque (Quem quiser saber exatamente sobre este aspecto, basta clicar no Google Imagem e digitar: Times Square Church) e que turistas de todas as nacionalidades fazem filas para conseguir assistir aos cultos, mas me esquecera de relatar o fato a seguir.
Tão logo chegamos, eu e minhas amigas, Erlânia, Malte e Odete tentamos lugar no térreo, mas ele já estava repleto. Entramos numa fila tentando espaço no segundo ou terceiro andares, e nos deparamos com uma “irmã” fortona, que barrava as pessoas e só lhes permitia o acesso após os “irmãos” organizadores irem até ela buscar os interessados.
Chegada a nossa vez, o moço perguntou: “Is that your first time here?” (Essa é a primeira vez de vocês aqui?). A assanhada aqui respondeu: “Yes, sir! We’re Brazilians. Please, get us four good places.” (Sim, sr. Nós somos brasileiras. Por favor, consiga-nos quatro bons lugares). Ele abriu um sorriso e disse-me: “I’d be pleased to sit near you!” (Eu ficaria feliz de me sentar perto de você). Embora o pronome YOU possa ser traduzido como VOCÊ ou VOCÊS, eu entendi na primeira acepção, porque algo na voz e no olhar daquele “irmão” me induziu a tal. Ele estava agradável demais da conta e nos conseguiu quatro assentos espetaculares.
Fui contar isso para o irmão único de minhas cunhadas, percrustando seus olhos em busca de indícios de ciúmes, mas não encontrei nada. Ele me disse: “Americanos evangélicos costumam ser muito simpáticos”.
Aí, decepcionada, eu olhei para outro lado para ele não perceber que eu estaria mentindo, pedi licença a Deus e resolvi inventar algo mais em minha conversa com o “Guardião” das cadeiras da Times Square Church. Disse-lhe que eu achava que o moço me “cantara” quando dissera que gostaria de se sentar ao meu lado, e que eu, muito “ofendida”, lhe dissera: “ I’m married, sir!” (Eu sou casada, senhor!), ao que o moço me respondera: “ “Im not jealous!” (Eu não sou ciumento!). Sabe o que meu marido me respondeu? “But I am!” (Mas eu sou!).
Procurei em seus olhos a confirmação do que ele falava e não encontrei. Ou ele disfarça bem ou tem certeza de que eu jamais o trairei. O jeito é eu continuar tentando e atentando, mas sei que com as rugas aumentando e as banhas sobrando ficará cada vez mais difícil. Rs,rs,rs...