A idade pode nos tornar mais simpáticos

A idade pode nos tornar mais simpáticos

O consultório era o mesmo de há oito anos. O tempo ali parecia não haver passado: Os mesmos quadros na parede, os mesmos certificados colocados estrategicamente; confirmando o alto gabarito do velho médico.

Hoje ela ali estava sem a companhia do querido companheiro, agora tão ausente da vida, e isso a deixava atordoada.

Oito anos provocam muitas mudanças! Somente o consultório permanecia inalterado. O médico, velho conhecido, agora, como peso dos anos, parecia menos rígido e mais acessível.

A paciente começou a sentir-se mais à vontade.

Observou os antigos quadros que enfeitavam a parede.

Não conteve a pergunta:

-As pinturas são suas?

-Não. São de antigos pacientes.

Respondeu o velho medico, observando com simpatia cada quadro.

E prosseguiu na explicação:

-O que está na entrada foi pintado por uma senhora minha paciente. Já faleceu... O quadro seguinte é de um senhor; era pintor nas horas vagas. Já faleceu.

Na apresentação de cada quadro, ao final a mesma conclusão.

O olhar do medico e da velha senhora se cruzaram. Havia em ambos um leve sorriso de cumplicidade.

No ar, a dura realidade: Não se chega à idade avançada impunemente. O tempo tudo desfaz, e qualquer arrogância é vazia.

Com o passar dos anos, muitos dos que estavam a nossa volta já se foram, e às vezes, nem sabemos o que ainda estamos fazendo aqui.

Resta-nos apreciar o caminho percorrido, agradecer e humildemente torcer para que a missão tenha sido bem realizada.

A senhora sorrindo prosseguiu:

-Vou pintar um quadro para seu consultório. Afinal, ainda não conclui minha jornada e continuo apreciado e contribuindo para enfeitar o que está ao meu redor.

O medico agradeceu, sorridente.

A idade o havia tornado muito mais simpático.

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 30/01/2011
Reeditado em 02/02/2011
Código do texto: T2761971