O VAI E VEM DO AMOR

Esta semana eu me peguei refletindo sobre as idas e vindas do sentimento chamado amor em nossas vidas e como reagimos diferentemente nessas ocasiões – sejam elas, as de vinda; sejam elas, as de ida.

Amar é deixar-se renovar a partir da alma e tornar os dias mais coloridos e prazerosos de viver. Entretanto, o amor, quando se instala em um ser, não avalia a capacidade desse ser de saber/poder suportar tudo o que ele, o amor, traz atrelado ao seu sentimento. De início, até podemos ver a maravilha que é receber, dentro de si, algo que nos transforma, nos faz mais alegres, nos transporta para mundos inimagináveis e que consegue nos dar a capacidade de enxergar – no outro – as melhores virtudes e, sobretudo, converter cada pequeno defeito em qualidades jamais superadas por qualquer outra pessoa.

Assim, a primeira coisa que o amor traz vinculada a ele é a paixão. E ela dura o suficiente para nos dar a sensação de que, a partir daquele instante, tudo será eterno e em estado de graça. Por isso, é que sorrimos mais do que devemos, cantamos por qualquer motivo e estamos sempre dispostos a oferecer um pouco mais do nosso eu para a pessoa amada - é a generosidade inerente ao amor. A nossa vida passa a ter novos significados já o que o dia a dia é assumido pelo desejo de estar/ter; pelo prazer que esse desejo causa, principalmente, através do contato físico, ou apenas pela simples presença de quem nos faz ter pensamentos lascivos.

A paixão, no entanto, não vem sozinha. Ela também traz, presos ao seu manto, vários sentimentos nocivos ao seu caminhar junto às pessoas atingidas pelas suas doces flechadas de satisfação, vontade, querer e prazer. Enquanto a paixão não encontra tempo para absorver defeitos, ou não se permite dar ouvidos para o que está ao seu redor, todos os outros sentimentos que ela carrega consigo não terão autonomia para passarem a agir dividindo o pensar de quem está vivendo um conto de fadas. Mas, como tudo é perecível ao tempo, o tempo da paixão um dia chega ao fim. E é aí que, nos estertores de sua breve vida, a paixão deixa escapar, por entre o seu manto, aqueles que irão reger, a partir dali, a tarefa de uma vida a dois. É a forma que ela encontra para dar continuidade às emoções e aos desejos, até então, sentidos por quem ela aproximou.

Porém, diferentemente do que ela – a paixão – espera, os coadjuvantes ao invés de ajudá-la na tarefa de reaquecer a chama da alma, em verdade, acabam reaquecendo a desconfiança, o ciúme e a inveja. Com efeito, disseminam desejos para todos os lados, só que desejos de dominação, passando a exercer uma vigilância severa em volta do que ainda resta para se preservar, acelerando, com isso, o início do fim de um sentimento que poderia ser chamado, no futuro, de amor.

É fácil de se perceber a “infiltração” nociva desses sentimentos entre os que ainda lutam para conservar a chama da paixão entre eles: os rostos estão sempre carregados pela angústia, os olhos revelam tristeza e sofrimento e estão sempre a busca de quererem encontrar algo que comprove as teorias da mente que passa, a partir da entrada da suspeita, a engendrar perseguições filosóficas; os lábios já não sorriem com tanta facilidade e, quando sorriem, o máximo que conseguem delinear, são espasmos sofríveis de acanhada alegria; o corpo padece a abstinência do contato físico, causada, na maioria das vezes, pelas discussões constantes, impedindo, com isso, a antiga intimidade da troca de carinhos e doações.

Nesta hora, o sentimento maior se prepara para dar adeus. Ele, do alto da sua simplicidade, não consegue conceber que aquilo que trouxe de bom, para habitar corações, seja transformado em disputa, malquerer, e passe a ser o antônimo do seu nome. Então, antes que seja tarde, ele parte deixando para trás um imenso vazio, uma sensação de perda e um gosto amargo de derrota.

Contudo, como ele, o amor, é o maior dos sentimentos, ele ainda arrisca mais uma possibilidade, de que ainda possa voltar para o seu antigo lugar e preencher o vazio que deixou, através de uma pequena chama chamada esperança que será acesa – totalmente – se, na ausência desse amor, um outro sentimento passar a fazer parte do dia a dia daqueles que o amor acabou de deixar. Este sentimento tem o dom de apenas trazer, para as recordações, aquilo que foi bom, que permaneceu intacto, que, sempre quando se faz imagem, passa a transportar, de novo, para o mundo dos sonhos e das fantasias, o melhor que o amor pôde dar enquanto residiu na essência de cada um dos seres: a saudade.

Deste modo, a saudade passa a exercer um papel fundamental no ciclo do amor, pois dá a oportunidade da reflexão, de avaliar a conduta, de perceber os erros e evitar que eles sejam repetidos no futuro. Dá, inclusive, a certeza de que “nada do que foi será de novo do jeito que já houve um dia” – parafraseando uma frase da letra de uma música de Lulu Santos. Portanto, se assim for, o melhor é fazer como diz a música e querer apenas se encontrar de novo.

Verdade seja dita, se nada pode ser do jeito que já foi um dia, por que, então, sofrer por algo que nunca se terá de volta? Assim sendo, o melhor é aproveitar o que se pode ter, de novo, pela frente, e esquecer tudo aquilo que não mais se quer ter na vida, principalmente, os erros do passado.









"O ser humano fenece a cada vez que o amor deixa de ser a sua principal fonte de vida" (Raí).






Obs, Imagem da internet

 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 30/01/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2761172
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