É O CERTO?!...
Ontem de manhãzinha minha filha entrou pelo meio da casa como se fosse um furacão. Fazia tudo ao mesmo tempo: tomava banho, perguntava se já tinha café, colocava a roupa e se calçava, perguntava as horas a cada segundo e do jeito que entrou, saiu pela porta a fora carregando uma maçã na boca, enquanto vestia o casaco e soprava um beijo com a mão meio de lado para mim. Estava atrasada para a Faculdade.
Agora toda segunda-feira era o mesmo ritual, chegava muito cedo, parava a vida de todos e saía como se só sua vida fosse importante. Ela, aos dezoito anos recém feitos, está namorando e, como é moderno, tem não um namorado, mas um “namorido”.
Não sei se agora é que está certo, mas não foi assim que eu sonhei quando pela vez primeira vi minha princesinha cor de ébano e a tive em meus braços, tão linda com os grandes e belíssimos olhos negros que me fitavam e já me informavam que ali estava uma pessoa decidida, apesar da fragilidade de todo bebe nos seus poucos minutos de vida.
Conversando com amigos, todos nós estamos passando por este momento que não conseguimos definir como começou a ser normal, quando foi que permitimos esta abertura e sempre vem à tona a questão da violência urbana, o cerceamento de nossa liberdade na época de nossa juventude, quando o sonho de liberdade povoava todos os nossos desejos – quiçá essa liberdade que agora a mim incomoda tanto. Discutimos, refletimos, mas nunca conseguimos chegar a uma posição única, embora o sentimento de todos seja igual – impotência.
Essas mudanças aconteceram em um espaço de tempo recorde. E, apesar de tornar o café da manhã mais movimentado quando os dois, aqui de casa, resolvem trazer seus “namorido” e “namesposa” para “pernoitar” por aqui, não deixo de ficar triste. No meio das cinzas dos meus sonhos, sinto uma pontinha de alívio e penso: graças a Deus eles têm caráter, são autênticos, não mentem, não enganam ...Mas, ainda assim, não consigo resposta à pergunta que me persegue: “É o certo?!...”