A MAIOR AFRONTA
Diz Lucas – 17:11,19 – que, caminhando Jesus para Jerusalém, escutou um brado de socorro. Eram dez leprosos, que de longe, como a lei mandava, pediam a cura.
O Mestre disse-lhes:”Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. Acreditaram - a fé os salvou, - e correram para o templo.
Nesse em meio verificaram que estavam limpos e vibraram de alegria, mas um, que era samaritano, grato pela cura milagrosa, veio atrás em busca de Jesus, e colando a face ao chão, agradeceu-Lhe a graça.
Diz o evangelista que o Filho de Deus, mostrou-se agastado e interrogou-o, nos seguintes termos:
- Não eram dez os leprosos? Como só um regressou para agradecer?! Se o Mestre dos mestres doeu-se com a ingratidão, o que será o homem mortal, perante a indiferença do semelhante?
Tenho para mim, que a ingratidão é a maior afronta que se pode fazer, e no entanto é a mais praticada.
Poucos são os que agradecem as mercês, e ainda menos os que ficam reconhecidos pelos favores praticados.
Se a aflição bate à porta, são lágrimas, rogos encarecidos, promessas sem fim; mas afastada a tempestade, sentindo o bafo quente da bonança, viram costas e nem telefonema, nem e-mail, nem carta, nem um muito obrigado.
Para quê? - dizem, - não preciso dele para nada!; e se são repreendidos, lembrando-lhes que já precisaram, respondem: Não tenho tempo! ….
Não têm tempo!; mas tiveram para solicitar o emprego; para obter a bolsa, que não saia; para o jeitinho que solucionou o problema.
Diz Paulo que é devedor a todos, porque de todos precisou.
Como ele, também sou devedor aos professores que tive; ao médico que me recebeu como se filho fosse; aos primos que ao longo dos anos estiveram presentes em momentos amargos.
Devo, e muito, a meus pais, que abriram caminho para que chegasse a bom porto e a velhice confortável.
Devo a intelectuais, jornalistas, amigos, porque sem apoio, sem sua ajuda, não podia nem sabia escrever esta crónica.
Devo também a directores, redactores de jornais e revistas, que abriram os periódicos e emissoras, e acicataram-me a progredir, a continuar a ingrata missão de escrever.
Devo, igualmente, a sacerdotes, a religiosos católicos e evangélicos, que instruíram-me e formaram o carácter, ensinando-me a respeitar a Lei de Deus.
Devo até, a antepassados, que nunca conheci; deles recebi bens e nome honrado.
A todos, o meu muito obrigado. A todos estou eternamente grato.
Não sei se isto acontece ao leitor, a mim, sim: cartas, mensagens electrónicas, boas-festas, parabéns de aniversário, ficam sem resposta; e raros são os telefonemas a indagarem como passo.
Mas se precisam, são cartas, e-mails, telefonemas constantes…Recebida a mercê, recolhem à indiferença, ao: Não preciso dele para nada! …
Isso desgosta-me; isso entristece-me; mas que hei-de fazer?!, se os homens são assim!