Iemanjá, a doce mãe

                               Odò-Ìyà


     Pela sua doçura, Iemanjá é o orixá que mais admiro. Não a conheço na intimidade, e é fácil de explicar: não frequento seus domínios. O que vale dizer que não conheço os Terreiros de Salvador e muito menos os segredos e mistérios do Candomblé.

     Disse, em outras crônicas onde andei falando sobre o sincretismo religioso, que quem mora na Bahia tem o dever de saber alguma coisa sobre o culto afro-brasileiro, mesmo sem o compromisso de a ele aderir. Culto que, celebrado com a devida seriedade, é, sem sobra de dúvida, muito bonito.

     Eu disse com seriedade. E é aqui que os adeptos do culto afro devem ter o máximo de cuidado. Brigar, sem dar tréguas, para não serem confundidos com macumbeiros ou assemelhados. Ajudando desta maneira a eliminar de vez o preconceito contra o Candomblé, que ainda sobrevive, por incrível que possa parecer.

     Vale recordar, que, na Bahia, somente no início dos anos 1970 o culto aos orixás - filhos do deus Olorum, se não estou enganado - foi definitivamente liberado.

     Além de Iemanjá, outros orixás existem e de importância indiscutível. Xangô, por exemplo, que, segundo me disseram, é o orixá que acompanha e protege, no seu dia a dia, este cronista de meia-tigela. Eu seria, como se diz aqui na Bahia, filho de Xangô.

     Só que, examinando, talvez com exagerado rigor, o meu perfil, descubro que pouca coisa tenho a me identificar como filho desse poderoso orixá. A não ser a pedra que, como advogado, carrego - há mais de 50 anos!- no meu dedo, o rubi, a pedra de Xangô!

     Pai Cido de Òsun Eiyn, no seu livro Candomblé - A panela do segredo, diz o seguinte: "O prazer de Xangô é o poder." Em verdade, eu nunca quis e nem pensei em ser um todo-poderoso.

     Entre os sinais que são apontados como sendo um daqueles que identificam os filhos de Xangô, de um, apenas, me considero possuidor, e confesso publicamente: o de ser "um amante vigoroso".

     A propósito, vejam o que, no seu livro, observa Pai Cido: "Pobres das mulheres cujos maridos são de Xangô."
     Bem. Aqui me permito a não entrar em maiores detalhes. Minha crônica de hoje é sobre a Rainha do Mar que, como disse no início, é o orixá que, pela sua doçura, mais admiro.

     Doçura de mãe - a mais completa das doçuras - é o que Iemanjá distribui, gratuitamente, de acordo com os livros que sobre ela andei lendo pela vida afora. Para Pai Cido de Òsun Eiyn "A Grande Deusa do mar faz parte do grupo das mães maiores."

     Mas, independente dessa sua marcante presença maternal, também admiro Iemanjá como "a raínha de todas as águas do mundo, seja das águas doces do rio, seja das águas do mar".
     Não me abeiro dos oceanos, sem dela me lembrar. E quando tenho de enfrentar suas ondas, peço dela a proteção e a guarda.

     Acreditem no que vou dizer:  a ela confio os mergulhos do meu neto Davi Jucá, um maravilhoso Down, apaixonado pelo banho de mar, no vigor e inocente afoiteza dos seus seis anos de idade. Incrível, né?

     Por tudo isso, no dia 2 de fevereiro, dia de sua festa,  mesmo sem o privilégio da filiação, levarei para a doce mãe, rainha das águas, flores, espelhos, sabonetes e o mais cheroso dos perfumes.
     O belo mar da Pituba, meu bairro, se encarregará de entregar-lhe, nas águas mais profundas, os presentes deste - contraditório? - cronista, um católico praticante.  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 29/01/2011
Reeditado em 10/01/2020
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