Moacyr Scliar, sem porém
Com tamanha euforia busco por entre prateleiras alinhadas da livraria Cultura, em Porto Alegre, mais um livro de Moacyr Scliar. Por entre minhas mãos sorvo superficialmente, com olhos atentos toda a moldura. Me dou por vencido. Pago sem pestanejar, de peito e carteira aberta.
Minha leitura inicia admirando a capa, “Eu vos abraço, milhões” nos presenteia com uma bela criação de Victor Burton, ilustrando um trabalhador de braços cruzados, um cristo redentor e homens com fuzis sendo almejados.
Encarno em mais uma partitura sensível, cômica e de inteligência fascinante. O livro me traz pra perto do escritor, me faz olhar com seus olhos, subverter ao seu imaginado, mergulhar em mares literários, pensar. O grande segredo da leitura é nos sentirmos incomodados.
Um livro de Scliar é de nos deixa antagônico, cheios de si, organizados com sua experiência um punhado de palavras soltas.
Autor de 80 obras, imortal da Academia Brasileira de Letras, sanitarista, militante, vencedor de diversos prêmios, dentre eles o Prêmio Jabuti, o autor também ostenta uma simplicidade ímpar. Merecedor de aplausos ininterruptos, de confrarias, de postulados.
Enquanto rebanho para o lado de cá os fatos literários da mestra obra, o autor sofre um acidente vascular cerebral, ao passo que necessita internação hospitalar em unidade de terapia intensiva. Paralelo à leitura compulsiva vou torcendo por uma melhora rápida, rasteira, merecida. Vou posicionando boas vibrações à margem de sua escrita, vou montando arvoredos de empatia, vou construindo muros, almejando. A imortalidade de Scliar está na vida, que durará.
Me presenteaste com tanta imaginação, chegou minha vez, de ofertar-te minhas orações.