GIRÂNDOLA

Havia muita gente na praia esperando para ver o estourar dos fogos de artifício. Para quem não sabe, este é o significado da palavra girândola. Façam uma visita ao dicionário para confirmar. A chuva fininha não espantou ninguém. Claro, tratando-se de uma cidade de porte médio que sobrevive principalmente de turismo de verão, não se poderia esperar um espetáculo que competisse com o que se vê em Copacabana. Não era uma Brastemp, mas também tinha o seu glamour, guardadas as devidas proporções.

É inegável a atração que o homem tem pelo fogo. O estourar da bomba H com o terrível cogumelo que provoca também o fascina. A imagem vive no inconsciente coletivo causando terror (e a intenção é essa mesmo. Povo com medo é povo dócil), porém, não deixa de ser fascinante. Desde tempos imemoriais os humanos tinham o hábito de postarem-se sentados ao redor de alguma fogueira, fosse para esperar o assado da caça, fosse para se aquecer. O fato é que a descoberta do fogo representou um passo gigante em sua história na pré-história, se me permitem o jogo de palavras.

Mas voltemos às comemorações de fim de ano. As girândolas como forma comemorativa no momento X em que um ano novo se inicia vem se espalhando por todo o mundo. O modus vivendi foi globalizado e as comemorações locais tendem a se globalizar ou desaparecer. É só observar como brasileiros passaram a comemorar o Halloween como se fizesse parte de sua cultura, entretanto, as festas juninas vem se tornando meras barraquinhas a vender guloseima típicas. As emissoras globais mostram, em tempo real, a beleza das girândolas all over the Word a anestesiados e esperançosos brasileiros enquanto aguardam a contagem regressiva de seu próprio momento a comemorar.

Por ocasião da “virada do ano”, que é como se chama agora o que outrora se chamava romanticamente “revellion”, as prefeituras gastam fortunas em shows com artistas populares e, principalmente, fogos de artifício. E quanto mais tempo dura o espetáculo pirotécnico no céu, mais satisfeito o povo fica e , com isso, maior a probabilidade de reeleição do prefeito. Mas deixemos de lado os bastidores da festa. O que importa é a catarse que os fogos provocam na multidão que se acumula nas praias e nos lugares abertos esperando para assistir ao efeito psicodélico que a girândola faz aparecer nos céus.

Indubitavelmente (amo esta palavra. Chique demais), o efeito dos fogos a se derramar em gotas ou a se espalhar em diversas cores pelo céu escuro é de tirar o fôlego. Não se questiona a beleza do espetáculo. O que me faz pensar é o dom que este possui de injetar otimismo nas pessoas, de fazê-las acreditar que o ano a se iniciar será melhor que aquele que se encerra e que os sonhos de cada um se tornarão realidade. As pessoas repetem os mesmos erros ano após ano, porém, a beleza dos fogos a estourar em cores no céu é capaz de convencê-las de que o resultado dos erros será diferente. Maravilhosa ilusão que nos faz viver! Magnífica girândola que nos faz acreditar no dia seguinte, no ano seguinte, na sorte e na esperança que se renova.