MEU AVÔ TOTÓ.
Noite passada, sonhei com meu querido avô, que carinhosamente era chamado de Totó. No sonho ele me pedia para em minhas palestras, trabalhar mais os temas, sobre a violência contra as crianças.
Nada a estranhar, pois, quando em vida, meu avô sempre abominou palmadas, surras e gritos, na educação das crianças.
Certa vez, eu devia ter uns oito anos, veio ele de seu armazém que tinha ligação direta com nossa casa, em horário incomum, estava com as mãos tremulas, sentia-se mal, parecendo que ia desmaiar, logo contou, que uma mãe que estava fazendo compras no armazém, perdeu a paciência e deu muitas palmadas no filho de quatro anos.
Isso bastou, para ele passar mal.
Meu avô era assim, da paz, nunca encostou a mão em nenhum de seus quatro filhos, nem em mim, que fui criada por ele, e olha, que bem que mereci umas palmadas.
Nem o tom da voz aumentava, nunca o vi raivoso, descontrolado. E seu maior desgosto era ver uma criança apanhar. Ele achava um absurdo alguém com três vezes o tamanho bater em outro indefeso.
Sempre dizia, que: Isso não é maneira de educar, pancada só trás revolta.
Ele foi alguém que muito apanhou em sua infância, chegando em uma das surras que o pai lhe deu, ser dado como morto, com apenas sete anos de idade, chegaram a velar seu corpo. Ele sempre contava, que seu corpo já estava sobre a mesa, velas acesas, sua mãe a prantear sua "morte" e a orar por sua alma a nossa Senhora. De repente ele voltou a respirar.
Resultado, fugiu de casa aos nove anos, para nunca mais voltar. Encontrou trabalho e virou adulto ainda menino.
Meu avô Totó, é um exemplo vivo, de que o meio contribui, mas não determina, pois, diferente de toda a violência que sofreu, deu sempre amor e bondade para sua família, e a todos que passaram em sua vida.
Foi o vôzinho mais terno que uma criança pode ter, todos os dias, após o almoço, eu me deitava em seu colo, na cadeira de balanço, e ele me contava histórias simples, mas repleta de magia, sua voz era doce, e embalava minhas fantasias.
Ele, não sabia o que era psicologia infantil, pouco estudou. Comeu o pão que o diabo amassou em sua infância, nas mãos de um pai tirano e bruto.
Mas, independente de tudo isso, e muito além disso, ele foi dos homens mais amaveis que conheci.
Amava as crianças, e elas a ele.
Eu o disputava com os outros netos, querendo sempre ser a preferida, mas ele nos amava de igual tamanho.
Todos cabíamos em seu imenso coração, ali havia amor para dar com sobras.
Era homem simples, criado na roça, que passou sua vida quase toda, atrás do balcão do seu armazém. Precisava de pouco para viver e ser feliz.
Agora para se sentir infeliz, bastava ver um ato de violência, de maldade, e ele se angustiava.
Nem de um animal jamais judiou. Criar os frangos, criava, agora matá-los, era função de minha avó, ele nunca quis nem ver.
Sequer entendia como alguém podia manter preso um pássaro. achava isso muita maldade.
Amava seus canteiros de flores, mais que os de verduras. Tanto admirava a beleza das flores, era comum convidar-nos para ver, em seu jardim, uma rosa que desabrochara, ou uma dália de cor diferente.
Dizia que não tinha religião alguma, o que deixava minha avó desgostosa. Mas, ele tinha e não sabia. Possuía a ligação com Deus, através do amor e da bondade que tinha por seu semelhante, e com toda natureza.
Criança para ele, devia ser amada, cuidada, amparada com carinho. Jamais maltratada.
Acho que por tudo isso, seu colo era tão macio, parecia um tufo de algodão, e sua voz suave, sempre a cantarolar lindas canções de sua época, ou a assobiá-las lindamente.
Um homem sábio e bom o meu avô Totó. Que tenho bem guardado, em um lugar muito especial do meu coração.