EXEMPLO DE FÉ E DEDICAÇÃO
Esta bela Crônica foi escrita pelo nosso colega
aqui do Recanto, o escritor Christiano Nunes.
Pediu-me que a publicasse em minha página, o
que eu prontamente atendi, com muita alegria!
EXEMPLO DE FÉ E DEDICAÇÃO
(por CHRISTIANO NUNES)
O dia de sábado ia terminando, dando lugar à negridão da noite. Todo o serviço básico da casa concluído. Cada qual se incumbia de uma tarefa. O corte de lenha para o velho fogão ficava por conta de Ismael e as demais com as moças, porque eram mais frágeis. Essa era a ordem imperativa do patriarca. O dia de domingo era mui respeitado pela família. Trabalho, só mesmo a comida e o trato das criações. Negócio algum era feito. Tinham-no como “santo”. Dia de ir à missa...
O senhor Abraham, homem trabalhador, respeitado, honesto, temente a Deus... devoto de santo Antonio. Desde que ficara viúvo, nunca quis casar-se de novo. Terminou de criar os filhos que a esposa fiel lhe dera... seis filhas e um único filho varão. Ismael era o nome do guri.
O filho pegava na gaita velha e dava-lhe uma surra, como o velho mesmo gabava-se. Isso quer dizer que tocava mui bueno. O piazote tinha como marca registrada, um tango que era sempre o prelúdio de qualquer apresentação. Isso era em festas de igreja, bailes, locais públicos... Podia apostar que lá vinha a mesma música.
O pai de família cavalgava léguas para assistir a uma missa em outras localidades. Das mais pertas, estava sempre a colaborar, fazendo doações de animais e mantimento para o churrasco. Em Pomares onde residia, não tinha igreja. Em casa tinha uma imagem do santo casamenteiro, o qual prestava-lhe devoção.
Numa feita reuniu os filhos. Falou-lhes das dificuldades para fazer o que mais gostava: Arrear os cavalos, arrumar a carroça e ir à missa aos domingos bem cedinho com a família. Quando sozinho, encilhava o baio e ia a galopito varando serras e campinas pra chegar na paróquia. Mas a idade já pesava-lhe e não tinha mais a mesma disposição de um guri, como o Ismael. Uma vez por mês o padre ia rezar na igreja mais próxima dali, que era 5 ou 6 km da sua casa.
O sítio da família não era grande, mas se diminuísse um pouco, não faria muita diferença. Uma parte era *faxinal. Propôs a idéia de fazer a doação de um pedaço de terreno para construir uma igreja. Estava disposto, não só pensando nele, mas em todos daquele patrimônio, chamado Pomares. Percebia que muita gente estava esquecendo da religião, com a desculpa de que era muito longe pra ir à missa. Em Rio da Queda, o padre vinha de Guarapuava, um domingo por mês. Nos outros vinha até a localidade de Tuervo... região central do Paraná.
Depois daquela reunião, duas ou três semanas depois, o Sr Miranda foi falar com o padre quando este veio celebrar, na paróquia São José. O vigário achou uma boa idéia e foi falar com o responsável pelo “campo”...
Não só o terreno Abraham Miranda doou, mas as madeiras e os demais materiais. Ele e o filho Ismael serraram os pinheiros e outras madeiras de lei para fazer o templo. Também na construção, ambos trabalharam de sol a sol, com ajuda de voluntários, alguns mais tarde se tornaram genros do Abrão Véio, come era conhecido naquelas bandas. Não demorou muito a inauguração. Santo Antonio, o santo português foi levado para o seu lugar de honra, com muita festa e euforia...
Até hoje a igreja está lá. Paróquia de Santo Antonio. Há muito que o Sr Abraham Miranda partiu pra sua última morada, mas deixou esse presente. Apelidaram de “a igreja do Abrão Véio”. Os mais antigos ainda a chamam assim...
Uma história que talvez ficasse para sempre esquecida mas isso seria uma grande perda. Exemplo de fé, dedicação, trabalho e dedicação... aque deveria ser seguido por por muita gente
*Faxinal significa campos abertos de matos curtos ou rasteiros.
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Parabéns pela linda crônica, Christiano.
Realmente ela retrata um lindo exemplo!
Abraços, Adria.