A SOLIDARIEDADE, PRIMEIRO CONFORTA DEPOIS SALVA
- Manda ele de volta!
Foi a primeira afirmativa que ouvi.
- Ele está recobrando os sentidos!
Foi a segunda. E em seguida uma aflita pergunta:
- O senhor está sentindo-se bem?
Ao abrir meus olhos, me dei conta de que estava no meio de algumas pessoas, que olhavam para mim assustadas.
Os rostos delas ainda se embaralhavam a minha frente.
Eu sentia o gosto de sangue na boca. Ele escorria pelo meu queixo. Minha camisa azul da Cor do mar tingida de um vermelho transformado em preto, rasgara-se no ombro esquerdo.
Minha bicicleta seccionada ao meio, jazia ao meu lado. Estava nela, quando ao partir-se, projetou-me sobre o calçamento, onde senti na cara o calor emanado das pedras sextavadas.
Velhas conhecidas no meu caminho de sempre que agora me feriam.
Vejo um dos meus dentes, entre os filamentos dos paralelepípedos e não consigo alcançá-lo, meus braços parecem presos ao meu corpo e minhas mãos possuem lanhos nas quais fica visível a camada anterior a pele.
Vozes ressoam como fogos de artifício nos festejos de fim de ano, na minha cabeça.
- Gente, é preciso que esse socorro venha logo. Ele está muito machucado, sangrando e prestes a perder os sentidos novamente. Ta demorando demais esse resgate!
Outra voz pedia-me um número de telefone, para que pudessem avisar sobre o meu acidente. Dei o telefone de casa.
- Água, Água... Pedi! Sentindo que iria desmaiar.
- Massagem, Massagem... Implorei! Sentindo o formigamento característico quando o corpo começa a entrar em processo de enrijecimento dos músculos.
Aquelas pessoas faziam tudo o que eu pedia.
“O Ser humano, é naturalmente solidário, quando colocado diante da sua fragilidade.”
O Resgate enfim chegou e eu alguns minutos depois, dei entrada na emergência do Pronto Socorro do Hospital irmã Dulce (Antiga Santa casa de Misericórdia) de Praia Grande-SP.
Aguardava de pé no corredor, uma vaga para o atendimento, quando meus filhos chegaram. Encontrei nos braços deles, o aconchego do qual precisava.
Sou chamado para o atendimento, chego a sentar-me na maca para aguardar a médica de plantão, quando sou solicitado a descer e voltar ao corredor, pois uma criança precisava ser examinada com urgência. Essa criança teve o seu maxilar perfurado por uma lança de portão.
Enquanto eu saia, ela entrava!
Diante da sua expressão de dor, eu não pensei mais em mim! As minhas desapareceram como que por enquanto.
“A dor mais forte a nos ferir, quando não doer de nós, a devir do nosso próximo (CCF).”
FIM, na verdade e em todos os sentidos... Um recomeço!
Origem dos acontecimentos:
Eu, voltando para casa.
Sábado 22/01/2011
Rua Sorocaba com Fumio Myase
Horas: 15h15min