Uma calçada em silêncio
Muitos são os lugares que se transformam após um fim de semana, mas lugar igual aquela calçada “mineira” em pleno reduto “carioca”, é mesmo transformadora. Na sexta-feira, a rotina já é quebrada ao longo do dia pelo marcado horário de ter seu fim do volume de veículos, e então, imponente e curioso, se posta nos limites da rua um belo exemplar da década de 80, com uma tonalidade verde, misturada ao branco, de comum com o futuro, só o linear de suas poltronas de número par 46; porta aberta, e como correição, degrau a degrau, num lento movimento desconfiado, desce a tropa. Uns, bolsa as mãos, outros, toalha atreladas ao pescoço, enfim, de tudo um pouco, vista-se naquela fronteira, ao final do último ocupante, o que se pode ver é a casa/hotel cheia. Então, fim do dia, ou melhor, por do sol, começa a se montar aquela arquibancada de improviso, cadeiras ao relento, alguns logo se animam a ocupar seus lugares, as crianças, correm pelos cantos e limites daquela passarela emprestada, uns, como antiga geral de campo de futebol, ficam a espreitar o vai e vem da rua, o relógio badala, a bandeira tremula, a arquibancada continua cheia, a lua já há algum tempo presente neste cenário, é companhia da hora, as vozes são em tom de burburinhos, outras em tom de carnaval e ainda há aquelas em ritmo de fim de anedota. Numa velocidade igual ao abrir das cortinas, o publico leva consigo a arquibancada casa adentro. Num salto de dia, a cena se repete, e já no domingo a noite, é hora do capitulo final, e então, na noturna segunda-feira sem sol, percebe-se uma calçada solitária, ah! Que saudade daquele movimento, fruto de um fim de semana de férias.
Onofre Junior – Um sonhador