Reques - O cachorrro.

Reques era um cachorro sem atrativos a primeira olhada. Sem raça definida, de pernas tortas e curtas não fazia o gênero de cachorro de madame e nem de cachorro valente daqueles que não dá trégua ao inimigo. Reques era calmo, na verdade diria mesmo que preguiçoso, comida, água fresca e um lugar para dormir era o seu lema. Trabalho de vigia, nem pensar. Não gostava de dormir fora de casa preferia o tapete da sala a qualquer outro lugar e se por acaso tivesse que sair para algum lugar o seu preferido era a feira. Penso que era a maneira de ele sair apenas um dia durante a semana e sempre aos sábados, alem de que podia fazer uma média com a minha madrasta por acompanhá-la onde ninguém queria ir.

Era sabido, o danado do Reques, sempre com aquele jeitinho manso, conseguia o que queria de todos da casa. Estava sempre pronto a cheirar-nos os pés e a fazer pequenas traquinagens junto com a gente. A sua única exceção para sair de sua lassidão era para nos acompanhar até a escola que era perto de casa ou para ficar esperando quando saíamos da aula e ai corria à nossa frente quase sempre levando a mochila ou alguma outra coisa. Era um companheiro e tanto.

Um dia minha madrasta mandou-me ao açougue e resolvi chamar o Reques para irmos juntos e lá fomos nós. Comprei a carne, recebi o troco e “bingo”! Resolvi dar o dinheiro para Reques levar para casa. Ele sempre correndo a frente, logicamente, chegou primeiro a casa e como demorei a chegar junto, ele resolveu que devia levar o dinheiro para outro lugar, atravessou a rua entrou em um sitio de bananeiras deixou a encomenda lá e saiu todo faceiro e quando perguntei: Reques cadê o troco? Ele olhou pra mim deitou e colocou as patas sobre os olhos. Desnecessário dizer que nunca mais se viu o dinheiro e que eu fui para o castigo. O que a época eu achei uma injustiça, afinal não tinha sido eu quem tinha enterrado dinheiro. Quem devia levar o castigo era o Reques e isso me fez pensar que todos queriam mais a ele que a mim. Fiquei brava com ele por umas duas horas, mas malandro que só ele, entrou no quarto assim que fiquei sozinha e só saiu de lá quando me tiraram do castigo.

Reques viveu minha infância e minha adolescência e nunca foi esquecido por nenhum dos membros de minha família. Sempre que se falava em cachorro as histórias dele eram contadas por um de nós e olha que sempre havia histórias para ser contada e que histórias!

Arlete Araújo
Enviado por Arlete Araújo em 26/01/2011
Reeditado em 27/04/2012
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