Receitas de Mulheres 4
O amor não chega sem avisar. Ele avisa.
Ela simplesmente abriu a porta. E ele estava lá. Cabelos negros. Lisos. Despenteados. Nariz afilado. Boca arroseada. Levemente opaca. Olhos negros? Azuis? Cor do infinito? Não se viu.
Viu-se somente: havia olhos. E algum brilho. Poderia ser dos olhos. Como de um riso disfarçado. Ou da luz por detrás da lixeira. Estavam na área de serviço. E um brilho havia.
Um trovão empurrou-lhe o peito. Preocupou-se com o barulho infernal, assim como se preocupava quando criança e tinha medo.
Não teve medo agora. Só sentia o trovão. Como um soco em suas veias.
Olhou novamente. Aqueles olhos. E o brilho que vinha por detrás de não se sabe o quê. Mas ele se virou. E ela mal teve tempo de ler em seu crachá: Mauro.
Ia lhe dizer: não vá. Não agora. Esperei tanto. Era isso? Nem tinha certeza de que era isso que esperava. Mas sabia que era aquilo que nunca esperou que fosse chegar.
_ Não. Não agora.
E ele:
_ Desculpe, endereço errado.
Ela correu. Sacola de lixo nas mãos. Elevador demorado. E aquelas escadas velhas, de cimento desgastado. Caiu por algumas vezes. Machucou o joelho. Não tem problema.
E o viu. Entrando naquela Van.
Na porta, em cores fluorescentes: "Mauro & Filhos – há 40 anos limpando fossas e esgotos".
Depositou a sacola no reservatório de lixo. Pegou o elevador de serviço. Entrou em casa. E se jogou no sofá.
Mauro era o nome da empresa para o qual o amor trabalhava.
_ Muitas vezes ele erra de endereço. Mas um dia, quem sabe, ele acerta.
(Adriana Luz)
O amor não chega sem avisar. Ele avisa.
Ela simplesmente abriu a porta. E ele estava lá. Cabelos negros. Lisos. Despenteados. Nariz afilado. Boca arroseada. Levemente opaca. Olhos negros? Azuis? Cor do infinito? Não se viu.
Viu-se somente: havia olhos. E algum brilho. Poderia ser dos olhos. Como de um riso disfarçado. Ou da luz por detrás da lixeira. Estavam na área de serviço. E um brilho havia.
Um trovão empurrou-lhe o peito. Preocupou-se com o barulho infernal, assim como se preocupava quando criança e tinha medo.
Não teve medo agora. Só sentia o trovão. Como um soco em suas veias.
Olhou novamente. Aqueles olhos. E o brilho que vinha por detrás de não se sabe o quê. Mas ele se virou. E ela mal teve tempo de ler em seu crachá: Mauro.
Ia lhe dizer: não vá. Não agora. Esperei tanto. Era isso? Nem tinha certeza de que era isso que esperava. Mas sabia que era aquilo que nunca esperou que fosse chegar.
_ Não. Não agora.
E ele:
_ Desculpe, endereço errado.
Ela correu. Sacola de lixo nas mãos. Elevador demorado. E aquelas escadas velhas, de cimento desgastado. Caiu por algumas vezes. Machucou o joelho. Não tem problema.
E o viu. Entrando naquela Van.
Na porta, em cores fluorescentes: "Mauro & Filhos – há 40 anos limpando fossas e esgotos".
Depositou a sacola no reservatório de lixo. Pegou o elevador de serviço. Entrou em casa. E se jogou no sofá.
Mauro era o nome da empresa para o qual o amor trabalhava.
_ Muitas vezes ele erra de endereço. Mas um dia, quem sabe, ele acerta.
(Adriana Luz)