CHATICES, OU?...

Há um número imensurável de chatices que se tornaria quase impossível enumerá-las uma a uma. São tantas que o melhor seria de nenhuma lembrar e muito menos citar.

Mas se assim fora, este texto inexistiria, e não existindo, sequer teria um nome. Comecemos então por dar vida ao texto, falemos, por exemplo, do virar da página do calendário a cada ano, conscientes de que esse gesto repetido a intervalos regulares de trezentos e sessenta e cinco dias nos vai subtraindo o tempo ou do tempo, em vez de somar, e como se isso não bastasse nos induz a que o festejemos. Uns dirão que se outros méritos não tivesse, a tal virada, pelo menos nos serve para reunir a família e os amigos, ao menos nessa data. Mas, e aqueles que não tem família, ou se a tem, mas mora longe?

Vejam a correria de fim de ano, a azáfama das compras de última hora. Para lá de um sem número de outras vantagens, extirparíamos a incómoda sensação de que os anos encurtam, já que o tempo é retalhado e dividido em magros números. Se ao menos esses números rondassem a casa das centenas aí sim era para fazer festa de arromba. Mas aí levanta-se outra questão, com algumas centenas na corcunda qual Matusalém será que teríamos o gosto pela vida? Eis aí uma grande chatice, há sempre um desmancha prazeres nos amarelando a nossa conturbada existência. Se não fora Eva, se não fora Adão, se fora isso, se não afora aquilo.

Ah, a vida sem chatices como seria bem melhor?...

Atentemos por exemplo no que diz respeito ao trânsito, como seria bem melhor o ir e vir pelas estradas sem a fricção desses malucos que pensam que estrada é pista de corrida, dispostos a dar fim às suas vidas e, o pior às daqueles que gostam da vida e a ela tem direito.

E então a massacrante chatice de a escassos quilómetros percorridos nas nossas precárias estradas, ao nos sentirmos subtraídos do nosso suado dinheirinho, nesses pedágios injustos e aviltantes sem uma razão que o justifique?...

Mais, que chatice para aqueles que bem que gostariam de poder desfrutar de momentos agradáveis numa praia enterrando nas frescas areias seus pobres e cansados pezinhos.

Cansaço do leitor de tantas vezes ter que ler a palavra chatice quando há tantos sinónimos e outros tantos antónimos dessa palavra que dá título a este mas, que, simplesmente deixei de os enunciar.

Mas relaxe, tome sua sesta, faça dos quinze ou vinte minutinhos do pós prandial aquele pedacinho de paraíso para sonhar com seu anjinho que mora dentro de si. Não se deixe escravizar por exdrúxulas convenções de uma sociedade que faz questão de manter o verniz das falsas aparências. Seja você mesmo, não se agrida e muito menos agrida o outro.

Não seja um daqueles escravos do dinheiro que por o vil metal se prostituem naquilo que o homem tem o mais sagrado dever de cultivar, a honra.

Sonhe acordado, “porque os que sonham de dia tem conhecimento de muitas coisas que escapam aos que sonham de noite”.

Olhai os lírios do campo; não se fatigam, nem fiam. Mas digo-vos que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Mateus,6:28.29.

Não faço apologia ao ócio, ao deixa pra lá para ver como fica, porque todo o homem tem de ganhar a vida com o seu trabalho honesto, para seu sustento, de sua família, e o progresso da sociedade em que está inserido. Exceção é claro, feita a certa classe que não trabalha, mas legisla, em causa própria e se locupleta do que aos outros pertence.

Fernando Pessoa o poeta português mais conhecido e lido pelos leitores do lado de cá do Atlântico, tem um poema, que às tantas assim diz: Ai que prazer/Não cumprir um dever/Ter um livro para ler/E não o fazer. Não devemos traduzir ao pé da letra o sentido do poema do Pessoa, feito certamente num momento de relax após um dia exaustivo de trabalho, de cabeça cheia de números, e suas complicadas equações contabelísticas, já que o que ele gostava mesmo, era das letras na sua forma mais pura. Chatices meus amigos, chatices...

Eduardo de Almeida Farias

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 25/01/2011
Código do texto: T2751986