AMAR E GOSTAR
Ontem lendo uma crônica do Roberto DaMatta, “Em redor do amor”, onde ele usa a expressão “queria que você gostasse de mim para sempre”, revivi um momento precioso da minha juventude.
Os verbos “amar” e “gostar” parecem sinônimos de diferentes intensidades; o amar talvez fosse mais profundo e o gostar mais superficial. Creio que não é bem assim. Não sou conhecedora da língua portuguesa, uma vez que sou formada em matemática. Portanto, a minha opinião é completamente subjetiva. Vulgarmente se usa a expressão “eu amo.....” de uma forma não personificada, por exemplo, eu amo a pátria; o meu time de futebol, o carnaval, etc... Quando se quer referir ao sentimento que move o nosso coração, dizemos “eu gosto de fulano (a)”. O gostar é específico, pessoal; o amar é vago, indeterminado.
Aí, como cita o Roberto DaMatta, veio Hollywood com a frase “I love you” , no “happy end” dos romances na tela, e a idéia de viver o que o filme americano nos mostrava, começou a coçar a nossa língua. Mas a coragem de emitir em alto e bom som o traduzido “eu te amo”, não nos levou às vias de fato; ficou na garganta. Sonhava-se com o idílio visto no escurinho do cinema e, na vida prática, usávamos apenas os gestos e demonstrações, em vez de palavras. Talvez hoje isto tenha sido superado e até banalizado. Pelo menos é o que nos mostram as novelas.
Há muito tempo atrás, comecei a sair com um colega de trabalho, da firma de engenharia onde trabalhávamos. Ele era argentino e, durante o nosso encontro, veio o assunto de expressões iguais e diferentes, no português e castelhano. Para que não houvesse dúvidas na hora de expressar os sentimentos, comecei a expor a minha teoria sobre o amor generalizado e o amor personificado, acima mencionada.
Ele ouviu calado a minha explanação. Pensei até em repetir o conceito, julgando que não tivesse entendido a profundidade do meu pensamento. Então, segurando a minha mão, ele disse: “eu gosto de você!”. Foi a primeira declaração de amor da minha vida e, em vez de provocar o êxtase esperado, deu mesmo foi um pânico generalizado. Filme é filme, e vida real é outra coisa. Afinal, que diferença faz em dizer eu te amo, ou eu gosto de você? O importante é usar sempre os verbos amar e gostar sem parcimônia. Eu amo vocês que estão lendo meu texto!
Petrópolis, 25 de janeiro de 2011