Ainda à sombra dos pequizeiros...
Itamaury Teles (*)
Recebi algumas manifestações de leitores, indignados com as conclusões do “trabalho científico” que desqualificava o potencial energético-afrodisíaco do pequi nas alcovas sertanejas.
A Ana Verena Dias Lima, que diz gostar de ler minhas crônicas, foi enfática: “Uai, pequi a gente não pega no chão? Porque na sua coluna você colocou um comentário de outro autor que dizia que as mulheres subiam no pé. Isso não é invenção pra tornar a história mais, digamos, interessante?”
O poeta Nunesouza, de Bonfinópolis de Minas, também deu sua opinião: “Vi que você conhece o Viagra do sertão. Aqui, que não é no Norte, mas no Noroeste [de Minas], há muita história do famoso pequi, que por sinal eu gosto muito. Talvez seja pelo fato de orgulhar-me de ter nascido numa prole de 13 irmãos. (...) Esse texto seu é curioso e criativo, e realmente “à sombra dos pequizeiros e com uma visão dessa, a população cresce...”.
Outros me abordaram na rua para dizerem que os gringos da pesquisa não entendem coisa alguma de pequi. E um foi mais longe: “Esse negócio de mulher subir em pé de pequi é pura balela. Aqui a gente apanha pequi no chão, catando. O pequi, quando está maduro, cai do pé naturalmente. Só quando a safra está no início é que se sobe na árvore, pois é irresistível a vontade de roer um pequi, mesmo que ainda não esteja maduro.”
De fato, o leitor tem certa razão, em sua explicação didática. Mas não estava totalmente certo, pois embora não fosse o comum, havia situação em que as mulheres subiam nas árvores.
Levei o assunto novamente aos cientistas supostamente contratados pelos laboratórios farmacêuticos, que continuavam com interesse em desqualificar o pequi como fruto afrodisíaco. E pedi urgência na resposta.
Como estamos em plena safra do pequi, os cientistas não titubearam e rumaram para Campo Azul onde é colhido o pequi mais “carnudo” da região. Aquele do tamanho de um ovo de galinha e no qual os dentes penetram meio centímetro na polpa macia, até encontrar a resistência e a ameaça dos traiçoeiros e minúsculos espinhos, que grudam na língua.
De novo de prancheta nas mãos, os cientistas observaram a colheita do pequi e constataram que havia muita gente apanhando o fruto no chão.
Mas não houve remédio. Os cientistas continuaram defendendo a tese de que a justificativa para a alta ocorrência de nascimentos, exatos nove meses após a safra de pequi, estava na colheita e não no próprio pequi.
E elaboraram um novo relatório, com a seguinte pérola: “Ratificamos a conclusão externada em nosso último trabalho de observação de campo, relativamente à inexistência de atributos afrodisíacos no fruto da caryocar brasiliense e que o fator causal dos nascimentos após nove meses da safra se deve ao que verificamos na fase de colheita. Além dos aspectos mencionados no nosso último relatório, sobre ser costume as mulheres subirem, de saia, nas árvores, aguçando a libido masculina, trazemos fato novo que confirma a nossa posição anterior. Mesmo com a colheita sendo feita por meio da catação dos frutos no solo, os homens continuam sendo seduzidos pelos encantos da mulher sertaneja. Aquela posição de catadora de pequi – para nós que fizemos o trabalho de campo – é similar à que Napoleão perdeu a guerra. Não há sertanejo que resista...”
(*) Escritor e jornalista