DOR: CASTIGO OU RESGATE
“Só a dor nos ensina a sermos humanos” - Ananias em conversação com Paulo de Tarso.
A dor é presença constante na vida de todo ser vivo. Em todos os reinos da natureza ela é identificada nas sensações de medo, nas ameaças, na vigilância, na auto preservação, nas relações entre as diferentes espécies. A própria vida a se extinguir lentamente está neste sentimento essencialmente contida. A dor em diferentes nuances de quantidades, de qualidades diferenciadas, mas todas elas a representação dos mesmos aspectos de infinitude. O simples fato de ver algo se findar transmite-nos as mais diferentes sensações, dando-nos a impressão de que certos desconfortos subseqüentes serão eternos. O rompimento de uma relação, a problemática familiar, a ameaça dos vícios, as enfermidades físicas às vezes irreversíveis e tantas outras trazem preocupações desestabilizadoras. Muitas vezes fabricamos nossas próprias dores, que nada mais são do que o resultado do estado de ansiedade que vivemos pela projeção de expectativas que fazemos em relação aos nossos desejos, e a terceiros que elegemos como projetos da nossa felicidade.
A dor nasce do desequilíbrio emocional, desencadeada por desajustes espirituais afetando sobremaneira a nossa organização física e mental (aprendemos isso com André Luiz, graças à Deus). Sofremos porque ainda muito nos falta para aprendermos a lidar com elas (as dores), mas mais difícil será o desafio se não procurarmos saber lidar conosco mesmos; interagindo como nossas emoções, reavaliando nossas atitudes e sentimentos, e isto irá construir as bases para o nosso tão necessário equilíbrio.
Os mais afoitos bradam aos céus seus impropérios contra tudo, colocando-se como vítimas perseguidas dos castigos e das penas eternas, e choram pela “cruz” que carregam como sendo de dimensões e pesos incalculáveis, presos sim, a visão mesquinha e egoísta que não permite um olhar mais amplo e transparente para outros sofrimentos, outras dores e provas duríssimas, muito mais difíceis de suportar. Este exercício comparativo ajuda-nos a resignificar, redimensionar nossas mazelas e indiretamente contribui para despertar o sentimento de piedade, não mais para nós mesmos, e sim para o nosso semelhante, aproximando-nos das margens da resignação.
Quando a ignorância passa a ser vista como objeto do passado, começamos a perceber que hoje um pouco mais dotados de conhecimento, a dor, seja ela de quaisquer circunstâncias, origem, gênero, nada mais representa que os efeitos e conseqüências de uma ação geralmente impensada que tiveram um ponto de partida em algum lugar, em algum período de nossas existências. Posto isto tudo fica muito mais claro e simplificado para o nosso entendimento.
Enquanto tristes diante do fato, a dor tende a se expandir, afastando a tristeza, depressivo sentimento que aprofunda ainda mais a amargura, mudamos completamente a ótica da situação vivenciada.
Quem castiga é o Deus da Antiquidade, daqueles que associam o sofrimento com punição, vingança, perseguição imputada ao pecador não arrependido. Se existe um algoz implacável que ameaça a nossa integridade física e moral em todos os instantes; que imperfeito ainda na se deu conta da prestação de contas para com a sua própria consciência no cometimento de tantos deslizes; que recua, adultera, violenta, manipula e que hipocritamente dissimula; este carrasco abominável está dentro de nós mesmos!
...Porem quem nos envolve com sua misericórdia sem fim, é este Deus que aprendemos a amar e não temer, moderno, acessível, imutável, infinito, onisciente, onipresente, soberanamente justo e bom, que nos propõe a reconciliação consigo através da dor do arrependimento, da lágrima da compreensão dos erros cometidos e que nos impulsionam imbuídos do compromisso da auto-regeneração, do auto-aprimoramento, tendo como aliado facilitador as propostas de Jesus.
Um Espírito faltoso irá responder sim pela lei de causa e efeito e deverá louvar à Deus por ter criado este mecanismo não como vingança, e sim para a correção de comportamento nocivos, desregrados e ofensivos. Uma compensação aguarda aqueles que sabem traduzir o significado da lágrima presente; que a aproveitam para lavar os resquícios de remorsos e de incredulidade que tanto desconsolam.
Diante do inesperado Paulo de Tarso, reflete: “O que fazer”? Naturalmente ele, um ser humano como qualquer outro também tinha suas dúvidas, receios, ansiedades e havia passado por uma significativa e determinante experiência com Deus: O contato com Jesus, em que morrendo para a vida material, renascia de novo em Espírito. Na dúvida recebe a orientação do novo caminho que deveria seguir: Levantar-se, redimir-se dos erros cometidos e semear o Amor e a Luz. Este sacrifício traria outras dores à ele: as da incompreensão, do inconformismo, da incredulidade, da intolerância alheia, que nada mais eram que o perfil de sua personalidade; aquelas provocadas pelo remorso e o arrependimento seriam banidas para sempre.
Este questionamento de Paulo deve ser encarado como mais uma reflexão em todas as circunstâncias de nossas vidas, pois se optarmos pelas piores resoluções seremos responsabilizados pelas dores decorrentes seja física ou moral, porem se ficarmos atentos à voz da consciência, naturalmente saberemos discernir satisfatoriamente pelas melhores escolhas e fortalecidos saberemos lidar com alguns contratempos que poderão surgir, mas diante do desafio agiremos sem temor, sem dúvidas, exatamente como o Apóstolo dos Gentios sem comportou, aprendendo com as lições diárias da vida, revertidas como obras de Deus para o resgate de nossas almas.